Pressionado por manifestações pró-democracia que pedem sua renúncia, o presidente iemenita Ali Abdullah Saleh disse nesta terça-feira que está disposto a deixar o cargo em janeiro de 2012. No entanto a oposição, que exige sua renúncia imediata, recusou a oferta, o que pode prolongar ainda mais a crise política no país.
"O povo exige que ele saia imediatamente (...). Não temos o direito de mudar a vontade do povo", afirmou Mohammed Sabri, dirigente e porta-voz da oposição no parlamento iemenita, em entrevista ao canal Al-Arabiya.
Confrontado com os protestos em massa que tomaram as ruas da capital Sanaa desde janeiro, Saleh a princípio indicou que pretende permanecer no cargo apenas até o fim de seu mandato, em 2013, e que não concorreria novamente. Agora, um alto funcionário do governo revelou que ele propôs renunciar em janeiro de 2012, após um referendo parlamentar.
Esta fonte, que pediu o anonimato, disse à AFP que a proposta faz parte de uma iniciativa de Saleh, no poder há três décadas, de "mudar para parlamentarista o sistema político em vigor".
Na última sexta-feira, 52 pessoas foram assassinadas a tiros por defensores do governo em Sanaa durante um protesto contra Saleh. O massacre provocou o repúdio de muitos membros do governo, que desertaram e passaram para a oposição.
A própria Liga Árabe fez um apelo ao governo iemenita nesta terça-feira, condenando o massacre de civis e pedindo a Saleh que "concentre esforços para salvaguardar a unidade nacional e o direito à liberdade de expressão".
O presidente, que posicionou tanques do exército em pontos-chaves da capital, advertiu nesta terça que uma tentativa de golpe no Iêmen pode levar o país a uma guerra civil, um dia depois de dois soldados terem sido mortos em um confronto entre unidades rivais.
De qualquer forma, Saleh parece a cada dia mais isolado.
Ele também advertiu que "qualquer divisão dentro das Forças Armadas teria consequências negativas para o país em seu conjunto".
A declaração foi exibida pela televisão pública depois do anúncio de renúncias de importantes comandantes militares, incluindo generais e dezenas de oficiais, que manifestaram apoio aos protestos contra o presidente, que está há 32 anos no poder.
O secretário da Defesa britânico William Gates disse à imprensa em Moscou que "a instabilidade (do Iêmen) e a redução do foco no embate contra a AQAP (Al-Qaeda na Península Arábica) é certamente minha maior fonte de preocupação nesta situação".
Indagado se Washington ainda apoia Saleh, Gates disse que não discutiria "assuntos internos sobre o Iêmen".
Treze ativistas da Al-Qaeda foram mortos e cinco soldados ficaram feridos em combates na província de Abyan, no sul do Iêmen, bastião da rede terrorista de Osama bin Laden, informou um oficial de segurança iemenita nesta terça-feira, sem indicar quando ocorreu o incidente.
Nesta terça-feira, o secretário da Defesa americano, Robert Gates, alertou que os atuais distúrbios no Iêmen poderão favorecer a Al-Qaeda, e afirmou estar preocupado com a situação no país árabe.
"Evidentemente, estamos preocupados com a instabiliade no Iêmen", declarou Gates aos jornalistas que viajavam com ele para Moscou, onde se reunirá com o presidente russo Dmitri Medvedev.
"A instabilidade e o desvio da atenção a respeito da AQPA (Al-Qaeda na Península Arábica) é, por certo, minha preocupação principal nesta situação", acrescentou Gates referindo-se à facção da Al-Qaeda no Iêmen.