O secretário de Defesa dos Estados Unidos, Robert Gates, afirmou nesta terça-feira que a coalizão internacional está disposta a "ir longe" para evitar mortes de civis na Líbia, onde realiza bombardeios contra posições das tropas fieis ao líder líbio Muamar Kadafi.
Em Moscou, onde se encontrou com seu colega russo, Anatoliy Serdyukov, Gates alegou que a maior parte dos locais atacados são pontos de defesa aérea do regime de Kadafi que ficam longe de áreas densamente povoadas.
O secretário americano chamou de "mentiras completas" as alegações do regime líbio de que os ataques da coalizão mataram civis e se disse preocupado com o fato de que algumas pessoas na Rússia acreditem nisso.
Falando a jornalistas, Serdyukov criticou os ataques na Líbia, pedindo o imediato cessar-fogo e o início do diálogo entre as partes rivais. Brasil, China e Índia também pediram o fim dos bombardeios na Líbia.
No entanto, a cúpula de poder na Rússia se mostra dividida sobre a questão. O presidente Dmitry Medvedev culpou Kadafi pelo conflito, e defendeu a decisão do Kremlin de não bloquear ações militares na região.
Por sua vez, o primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, chamou de "incompleta" e "falha" a resolução do Conselho de Segurança da ONU que autorizou a intervenção. Além disto, ele comparou as ações militares a uma “cruzada”, e o uso desse termo foi considerado “inaceitável” por Medvedev.
Feridos e refugiados
A ONG Médicos Sem Fronteiras afirma que não há relatos de pessoas feridas na Líbia devido aos bombardeios da coalizão.
Falando em Genebra, Ivan Gayton, um porta-voz da entidade, afirma que os feridos que chegam até a fronteira com a Tunísia são vítimas de ferimentos de bala - o Médicos Sem Fronteiras não tem a entrada permitida em território líbio.
Gayton também afirma que existem informações sobre milhares de feridos sem atendimento médico na Líbia.
Já o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) alertou para o fato de que, entre os refugiados, há cada vez mais mulheres e crianças.
Bombardeios
A capital da Líbia, Trípoli, foi alvo na última madrugada, pela terceira noite seguida, de ataques aéreos e com mísseis promovidos pela coalizão internacional que tenta impor uma zona de exclusão aérea no país.
Segundo o governo líbio, os ataques deixaram vários civis mortos. As informações não puderam ser confirmadas de maneira independente.
Explosões e disparos de artilharia antimísseis foram ouvidos perto do complexo onde vive Kadafi em Trípoli, no bairro de Bab Al-Aziziya.
As forças de Kadafi estão apertando o cerco a Misrata, cidade no oeste da Líbia, que está controlada por rebeldes. Um médico residente no local disse à BBC que, na noite passada, pelo menos 22 pessoas foram mortas e outras cem ficaram feridas.
Um oposicionista, também residente em Misrata, pediu ajuda da comunidade internacional, alegando que o regime líbio cortou luz e água na cidade, prejudicando os trabalhos no hospital local. O rebelde pede que ajuda médica seja enviada pelo mar.
Já a rede de TV árabe Al Jazeera relata que violentos combates estão ocorrendo na cidade de Ajdabiya, no leste da Líbia. Segundo a emissora, os combates de oposição estão se retirando devido ao avanço das forças do governo.
Ainda nesta terça-feira, o Comando Militar dos Estados Unidos na África confirmou a queda de um avião de guerra do país na Líbia.
O porta-voz do Comando da África Kenneth Fidler disse à BBC que a aeronave que caiu - um caça F-15 Eagle, sofreu o acidente na noite passada. Os dois tripulantes do caça foram resgatados.
Kadafi está no poder na Líbia há mais de 40 anos. Um levante contra ele começou no mês passado em meio a uma onda de revoltas em países árabes ou muçulmanos que já provocou as renúncias dos presidentes da Tunísia e do Egito.
Além dos Estados Unidos, participam da coalizão França, Grã-Bretanha, Estados Unidos, Canadá e Itália. Outros países, incluindo Espanha, Bélgica, Dinamarca e Catar, já anunciaram que se juntarão à coalizão