Apesar de o aparelho custar centenas de reais, empresas francesas que vendem ou alugam esse equipamento dizem que estão com problemas de falta de estoque até o final de abril ou maio. "Normalmente, vendemos, em média, 50 contadores Geiger por ano. Mas, em pouco menos de duas semanas, já vendemos 800 unidades", disse à BBC Brasil Jérémy Blumenstein, gerente da JR International, empresa de equipamentos eletrônicos com sede na cidade de Toulouse, no sudoeste da França.
Boa parte dos franceses desconfiam das declarações oficiais de que a nuvem radioativa de Fukushima - que chegou à França na quarta-feira, segundo a Autoridade de Segurança Nuclear do país - não teria efeitos nocivos à saúde e sobre os alimentos.
Desconfiança
Na raiz dessa desconfiança está a forma como o governo lidou com a ameaça de contaminação radioativa após o acidente na usina nuclear de Chernobyl, ocorrido na atual Ucrânia em 1986 e considerado o pior acidente nuclear da história.
Na ocasião, as autoridades francesas foram acusadas de minimizar as consequências da nuvem radioativa que atingiu a França, sobretudo o leste do país e a Córsega, no Mediterrâneo.
O governo francês afirmou na época - assim como está dizendo atualmente, após o caso de Fukushima -, que não havia necessidade de adotar medidas para proteger a população dos efeitos da radioatividade.
No entanto, foram observados níveis de radioatividade acima do normal em várias partes do país e até agora ainda é altamente contestado se o governo estava certo.
A partir dos anos 2000, centenas de pessoas, muitas delas com câncer, entraram na Justiça acusando o Estado de não ter informado corretamente a população sobre os riscos ligados à catástrofe de Chernobyl. “Os franceses querem se tranquilizar e preferem checar eles mesmos os níveis de radioatividade no ar”, diz Blumenstein.
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Terremoto de 11 de março no Japão é a catástrofe natural mais cara da históriaOperações de resfriamento em Fukushima podem durar um mêsIdentificada contaminação por radioatividade em alface roxa no JapãoA empresa receberá um novo lote do modelo do produto que tem o preço mais baixo, 249 euros (cerca de R$ 573), em 22 de abril, mas diz que tudo já foi vendido ou reservado e que esse aparelho só estará disponível novamente a partir de 29 de abril.
Somente os contadores Geiger mais caros, com preços entre 400 e 450 euros (de cerca de R$ 920 a pouco mais de R$ 1 mil), estarão disponíveis nos próximos dez dias, afirma Blumenstein.
A empresa Conrad também enfrenta falta de estoque de contadores Geiger e não pode entregar o aparelho antes do prazo mínimo de um mês.
A Prorata, especializada no aluguel de equipamentos científicos, não dispõe mais de contadores Geiger para alugar até a terceira semana de abril, diz Christophe Salgueiro, da área comercial.