Vários manifestantes foram mortos nesta sexta-feira em protestos que se estenderam a diversas cidades da Síria, apesar do anúncio feito pelas autoridades de medidas sem precedentes de democratização, segundo ativistas dos Direitos Humano e testemunhas. O anúncio do governo prevendo uma possível anulação do estado de emergência, medidas de combate à corrupção, libertações de opositores, além de um aumento dos salários dos funcionários, não parece ter acalmado a onda de contestação popular ao regime autoritário no poder há 40 anos. Os protestos foram registrados em diversas cidades, principalmente Deraa, epicentro das manifestações onde mais de cem pessoas foram mortas desde 18 de março, Sanamein, Daael (sul), a capital Damasco, Banias e Hama, segundo ativistas dos Direitos Humanos e correspondentes da AFP.
Vídeos no Youtube mostraram também manifestações em Homs, a nordeste de Damasco, e em Lattaquieh, enquanto que uma página do Facebook indicou protestos em Deir el-Zor e em Raqa (nordeste). Segundo um militante sírio que pediu para não ser identificado, "dezessete manifestantes foram mortos a tiros quando marchavam em direção a Deraa. Eles foram atacados em Sanamein", 40 km ao norte de Deraa. No momento, não é possível confirmar esse registro. Ainda de acordo com um militante, as forças de segurança atiraram contra manifestantes que estavam reunidos no centro de Deraa, próximo à casa do governador destituído. "Houve vítimas". As forças abriram fogo no momento em que manifestantes rasgaram uma imagem do presidente Bachar al-Assad e tentaram derrubar uma estátua de seu pai, o ex-presidente Hafez al-Assad, segundo um militante, que afirmou que havia mais de 10.000 manifestantes. Segundo um morador, na saída da mesquita Al-Omari em Deraa, os manifestantes bradavam lemas hostis ao regime. Os militantes dos Direitos Humanos indicaram 100 mortos na quarta-feira durante manifestações em Deraa, uma cidade agrícola de 75.000 habitantes. Neste "Dia da Dignidade" lançado no Facebook, centenas de pessoas protestaram em Damasco após as orações na mesquita dos Oméias. Elas protestaram bradando "Deraa é a Síria", "Deus, Síria, liberdade e isso é tudo". Os manifestantes passaram por partidários do regime, que respondiam: "Com nosso sangue e nossa alma, nós nos sacrificaremos por Bachar" al-Assad. Uma jornalista da AFP viu pelo menos cinco manifestantes detidos por policiais à paisana. Segundo uma testemunha, 200 pessoas também realizavam uma passeata na véspera na cidade de Damasco antes de serem dispersadas violentamente pela polícia. Ela indicou ter visto um manifestante sendo interpelado e uma manifestante puxada pelos cabelos. No sul, em Daael, 30 km ao norte de Deraa, 300 pessoas exibindo bandeiras sírias, gritavam "Daael e Deraa não se deixarão humilhar". Segundo as associações de Direitos Humanos, 3.000 pessoas protestaram em Banias, 250 a noroeste de Damasco, e centenas realizaram em Hama, onde uma revolta dos Irmãos Muçulmanos terminou em banho de sangue nos anos 1980. Em uma comunidade no Facebook, "a União da Juventude síria" pediu "a demissão de Bachar al-Assad e de membros de seu regime" e a instauração de um "governo de transição formado pelo povo". O jornal do partido no poder, o Al-Baas, divulgou fotos manifestações pró-Assad, assegurando que uma "nuvem passageira passou, mas a Síria mostrou sua vontade de superar a crise".