Jornal Estado de Minas

Para Gates, mudança de regime na Líbia é 'muito complicada'

AFP
- Foto: Presidência da Venezuela e REUTERS / Fadi Arouri
O objetivo militar da intervenção internacional na Líbia não é derrubar o ditador Muamar Kadafi, porque qualquer mudança de regime seria "muito complicada", estimou neste domingo o secretário de Defesa americano, Robert Gates.
"Como vimos no passado, uma mudança de regime é algo muito complicado; às vezes exige muito tempo, às vezes pode ser muito rápido. Mas isto jamais fez parte do objetivo militar" na Líbia, destacou Gates, em entrevista ao programa 'This Week', da rede ABC.

Ele compareceu ao programa acompanhado da secretária de Estado, Hillary Clinton.

A queda de Saddam Hussein, em 2003, que ocorreu em poucas semanas, não impediu que os Estados Unidos se atolassem em uma complicada guerra no Iraque nos anos seguintes. No Afeganistão, as operações militares ainda continuam, dez anos após a derrubada do regime talibã.

Assim como outros governantes ocidentais, o presidente americano, Barack Obama, já lançou diversos apelos a Kadafi para que deixe o poder. Entretanto, esta não é uma meta do mandato outorgado às forças da coalizão internacional pela resolução 1973 do Conselho de Segurança da ONU.

"Essa é a diferença entre uma missão militar e um objetivo político", ponderou Hillary.

"Durante uma campanha militar, uma das coisas essenciais, a meu ver, é não definir um objetivo que não tenhamos certeza de poder alcançar", acrescentou.

A resolução 1973 autoriza as forças da coalizão internacional, da qual participam, além dos Estados Unidos, vários países europeus e da Liga Árabe, a instaurar uma zona de exclusão aérea sobre a Líbia, com o objetivo de proteger a população civil das tropas leais a Kadafi.

Vizinhos da Líbia

Falando sobre a Tunísia e o Egito, onde rebeliões populares no começo do ano derrubaram os presidentes Zine Al Abidine Ben Ali e Hosni Mubarak, respectivamente, Gates alertou para a possibilidade que a situação na Líbia desestabilize ainda mais estes dois países, ambos vizinhos.

Em meio a uma saraivada de críticas do Congresso nacional à decisão de Obama de incluir as forças americanas na coalizão que intervém na Líbia, Gates afirmou que a Líbia representa "uma ameaça real e iminente" para os Estados Unidos, uma vez que o Egito é "uma peça central" no equilíbrio da região.

Para o secretário da Defesa, é preciso, acima de tudo, apoiar o movimento democrático egípcio.

O confronto entre as forças leais ao regime de Kadhafi e os rebeldes que querem sua renúncia "ameaça pôr em risco as revoluções na Tunísia e no Egito", indicou Gates.

"Havia um êxodo massivo de tunisianos e de centenas de milhares de outros trabalhadores estrangeiros na Líbia que começaram a ir para a fronteira" com a Tunísia, lembrou Gates. As mesmas cenas agora se reproduzem na fronteira egípcia com a Líbia.

Por isso, os novos regimes nascidos das revoltas populares ainda são "frágeis".

Líbia não é vital

"Não acredito que a Líbia seja de interesse vital" para a segurança dos Estados Unidos, "mas temos claros interesses ali, e o país está situado em uma região de suma importância para nós", argumentou Gates.

Para Hillary Clinton, a intervención internacional Líbia evitou "uma catástrofe humanitária" e um "massacre em grande escala que começava a acontecer".

Por fim, Robert Gates comentou a situação explosiva no Iêmen, onde o presidente Ali Abdallah Saleh está cada vez mais isolado e sofre a pressão do movimento pró-democracia para deixar o poder.

"Se o governo cair ou for substituído por um governo muito mais fraco, então enfrentaremos ainda mais desafios no Iêmen, não resta dúvida. É um verdadeiro problema", estimou o secretário americano.

"O braço mais ativo e talvez mais agressivo da Al-Qaeda, a Al-Qaeda na Península Arábica, atua no Iêmen e nós temos uma cooperação antiterrorista com o presidente Saleh e os serviços de segurança iemenitas", ressaltou.

A CIA e o exército americano têm mobilizados no Iêmen dezenas de agentes há 18 meses para ajudar o exército iemenita a combater a Al-Qaeda na Península Arábica - que estaria planejando um novo atentado, segundo publicou o jornal Washington Post, citando altos funcionários do governo americano.