Jornal Estado de Minas

Sem a presença árabe, ministros das potências ocidentais pedem a saída de Kadafi

AFP
- Foto: AFP PHOTO / Stefan Rousseau / WPA POOL Os participantes da conferência ministerial sobre a Líbia chegaram nesta terça-feira em Londres a um consenso "por unanimidade" para dizer que "Kadhafi deve deixar o país", em uma reunião marcada pela ausência dos países árabes. "O consenso foi atingido. Os participantes da reunião disseram por unanimidade que Kadhafi deve deixar o país", declarou à AFP o chefe da diplomacia italiana, Franco Frattini. Apesar da unanimidade a que se referiu Frattini, não houve o consenso desejado por franceses e ingleses, já que a reunião teve a notável ausência de grande parte dos países árabes. No total, 36 países atenderam à convocação com seus ministros das Relações Exteriores. Mas os países árabes bateram em retirada. Apenas sete dos 24 países da Liga Árabe estavam presentes e representados não por seus ministros das Relações Exteriores, mas por embaixadores, à exceção de Qatar e Emirados Árabes Unidos. No comunicado final, foi anunciado que o Qatar, único país árabe a participar das operações na Líbia ao lado dos Emirados Árabes, será a sede da próxima reunião do "grupo de contato" criado durante a conferência. Após a reunião, a França indicou que está pronta para discutir com seus aliados uma ajuda militar aos rebeldes na Líbia, de acordo com seu ministro das Relações Exteriores, Alain Juppé. No entanto, Juppé ressaltou que esse ponto não está previsto nas recentes resoluções da ONU sobre esse país. "Isso não está previsto na resolução 1973, nem na resolução 1970. No momento, a França se atém à estrita aplicação dessas resoluções. Dito isso, estamos prontos para discutir com nossos parceiros", declarou o ministro durante uma entrevista coletiva à imprensa. Preocupados com o futuro líbio, a maior parte dos países membros da Liga Árabe, como Argélia e Egito, que acaba de derrubar Hosni Mubarak, não estava representada nesta primeira reunião do "grupo de contato" sobre a Líbia. O líder da Liga Árabe, Amr Mussa, não aceitou o convite e foi representado por um simples embaixador, postura explicada por um diplomata egípcio pelo fato de a Otan ter assumido as operações militares e pelas incertezas que pesam sobre a situação da Líbia no futuro. O apoio da Liga Árabe aos ocidentais foi fundamental para a adoção da resolução 1973 do Conselho de Segurança, que autoriza os Estados membros da ONU a adotar "todas as medidas necessárias" para proteger as populações civis. "O fim do regime de Kadhafi está próximo", assegurou na abertura da reunião o primeiro-ministro e ministro qatariano das Relações Exteriores, xeque Hamad Ben Jassem bin Jabr al-Thani. A União Africana estava ausente, embora o presidente da Comissão da UA, Jean Ping, tenha sido anunciado como presença certa na segunda-feira. Outra ausência sentida foi a do povo líbio. O Conselho Nacional de Transição, contrário ao regime de Muamar Kadhafi não participou do primeiro encontro, apesar das pressões da França nesse sentido. Ahmad Jibril, que representa o Conselho Nacional de Transição (CNT) no exterior, intensificou, no entanto, as reuniões paralelas à reunião oficial com os líderes da diplomacia americana, Hillary Clinton, e com Alain Juppé. Em um comunicado, o CNT apresentou a sua "visão" da era pós-Kadhafi, considerando que "não há alternativa ao estabelecimento de uma sociedade livre e democrática, que deve ser alcançada através do diálogo, da tolerância, da cooperação, da coesão nacional e da participação ativa de todos os seus cidadãos". "Após a derrota do regime ilegal de Kadhafi, o Conselho de Transição terá várias obrigações: redação de uma nova Constituição, formação de partidos políticos, direito dos cidadãos de votar nas eleições legislativas e presidencial, e condenação do terrorismo", indica o comunicado. Seus termos permanecem vagos, no momento em que os combates são mantidos e em que o líder líbio não parece estar disposto a tomar o caminho do exílio, como pedem vários líderes mundiais. Perguntado sobre as implicações de um eventual exílio de Kadhafi, Franco Frattini ressaltou que "isso não significa imunidade". "Não podemos dizer, não queremos dizer isso, porque imunidade seria a violação do estatuto de Roma", texto fundador do Tribunal Penal Internacional (TPI), afirmou Frattini.