Em um discurso no qual lançou seu plano para o futuro energético dos Estados Unidos, nesta quarta-feira, o presidente Barack Obama reafirmou o interesse em importar petróleo do Brasil e destacou o exemplo do país na produção e no uso de biocombustíveis.
Obama anunciou um plano para reduzir as importações americanas de petróleo – que chegavam a 11 milhões de barris por dia quando ele foi eleito, no final de 2008 – em um terço até 2025. Ele admitiu, porém, que o petróleo ainda continuará a ser parte importante da matriz energética dos Estados Unidos por um bom tempo.
"E quando se trata do petróleo que nós importamos de outras nações, nós podemos nos associar a vizinhos como Canadá, México e Brasil, que recentemente descobriu grandes novas reservas de petróleo e com quem podemos compartilhar tecnologia americana", afirmou o presidente, em discurso na Universidade de Georgetown, em Washington.
Segundo Obama, a busca pela redução da dependência da importação de petróleo passa por dois caminhos: aumentar a produção doméstica e buscar alternativas mais limpas.
"Um substituto para o petróleo que traz enormes promessas são os biocombustíveis renováveis", disse. "Se alguém duvida do potencial desses combustíveis, considere o Brasil. Já mais da metade – metade – dos veículos brasileiros pode ser movida a biocombustíveis."
Pré-sal
O discurso desta quarta-feira foi uma forma de prestação de contas ao público doméstico em um momento em que a alta nos preços dos combustíveis – alimentada por crises internas em países produtores de petróleo, como a Líbia – representa um problema a mais para a economia americana, que enfrenta uma recuperação lenta após a crise global e altas taxas de desemprego.
Além de reduzir a dependência de petróleo, os Estados Unidos buscam também diversificar seus fornecedores. O interesse americano em ter o Brasil como grande fornecedor de petróleo já havia sido manifestado por Obama em sua primeira visita ao país, há 11 dias.
"Nós queremos trabalhar com vocês. E quando vocês estiverem prontos para vender, nós queremos ser um de seus principais clientes", disse Obama em Brasília, ao comentar o interesse americano nas descobertas de petróleo na camada do pré-sal.
As declarações durante a visita ao Brasil chegaram a provocar críticas internas, por parte da oposição, para quem Obama deveria se concentrar em investimentos no setor dentro dos Estados Unidos.
Após o vazamento no Golfo do México no ano passado, provocado pela explosão de uma plataforma operada pela petroleira britânica BP, os Estados Unidos aumentaram as exigências de segurança para exploração em águas profundas.
Ao comentar as exigências adotadas após a tragédia – que se transformou no pior desastre ambiental da história americana –, Obama rejeitou críticas de que tenha "fechado" a exploração de petróleo no país.
"Isso não condiz com a realidade", disse o presidente, nesta quarta-feira, ao afirmar que seu governo incentiva a produção e a exploração de petróleo em águas profundas, "contanto que seja segura e responsável".
"No ano passado, a produção americana de petróleo chegou a seu nível mais alto desde 2003. E pela primeira vez em mais de uma década, o petróleo que nós importamos representou menos da metade do combustível líquido que nós consumimos", afirmou.
Dependência
Obama ressaltou, porém, que a solução para o "desafio de longo prazo" no campo energético está na redução da dependência de petróleo.
"Nós continuaremos sendo vítimas das oscilações do mercado de petróleo até que levemos a sério uma política de longo prazo para energia segura e acessível", disse.
"Os Estados Unidos não podem se dar ao luxo de apostar nossa prosperidade e segurança de longo prazo em um recurso que em algum momento irá acabar."
Além da alternativa dos biocombustíveis, Obama citou iniciativas como investimentos em carros que consumam menos combustíveis, reformas e melhorias no sistema de transporte público, energia eólica e construções verdes.
O presidente também citou a energia nuclear, que vem gerando debates em todo o mundo desde a crise no Japão, desencadeada pelo terremoto que atingiu o país no início do mês.
Obama disse que um quinto da eletricidade nos Estados Unidos vem de energia nuclear, e há potencial para crescimento. O presidente ressaltou, porém, estar "determinado" a garantir que essa energia seja segura e disse ter ordenado uma ampla revisão das condições de segurança das instalações nucleares no país.
Em meio ao debate no Congresso americano sobre o orçamento e a necessidade de redução no déficit, Obama pediu que não sejam cortados investimentos em energia limpa, pesquisa e desenvolvimento.
"Esses cortes eliminariam milhares de empregos no setor privado, limitariam o trabalho de cientistas e engenheiros, dariam fim a bolsas para pesquisadores, estudantes de graduação e outros talentos que necessitamos desesperadamente para o século 21", disse.