Os dois maiores e mais populares diários do segmento infantil, o Asahi Shougakusei e o Mainichi Shougakusei, nas duas primeiras semanas após o terremoto, dedicaram boa parte das oito páginas para falar da tragédia.
Mas segundo Hiroshi Oki, 55 anos, editor-chefe do Asahi Shougakusei, editado desde abril de 1967, a maior dificuldade nesta cobertura tem sido explicar a complicada crise nuclear, sem causar desespero nas crianças.
Assim como os adultos, os pequenos ainda têm muitas dúvidas em relação à contaminação de alimentos e da água. “Tentamos mostrar que não há necessidade de entrar em pânico, mas que é preciso tomar alguns cuidados”, explicou à BBC Brasil. “As crianças são sensitivas, por isso tomei muito cuidado para que não ficassem inseguras”, acrescentou a jornalista Maki Nakajima, 28 anos, do Mainichi Shougakusei, o mais antigo do segmento, publicado desde 1936.
A equipe do Asahi também procurou deixar claro aos leitores mirins os prejuízos causados pelo terremoto e pelo tsunami. “Mas explicamos que, no caso da contaminação nuclear, ainda não se sabe quais serão os danos reais”, completou Oki.
O jornal utilizou também muitos quadros para explicar o significado de palavras que apareceram constantemente nos noticiários, como césio, millisievert etc.
O funcionamento de uma usina nuclear e a necessidade da energia produzida por ela também foram abordados pelo diário.
Explicação em detalhes
“Nas primeiras edições após a tragédia publicamos matérias sobre como aconteceu o terremoto, a magnitude do abalo, a existência das placas tectônicas e como se forma o tsunami”, contou Oki.
Para não se tornar um jornal somente com notícias tristes, Maki diz que investiu em temas mais ‘alegres’ com o passar dos dias. “Falamos da ajuda de pessoas de outros países, evitamos colocar imagens muito chocantes e publicamos fotos de crianças sorrindo nos abrigos.”
Numa segunda etapa, o foco foram as crianças que vivenciaram a tragédia e que agora vivem nos abrigos, campanhas de ajuda, explicações sobre como proceder em caso de outro terremoto forte e o porquê da falta de energia elétrica.
Os jornais têm publicado ainda muitas mensagens positivas e de apoio às vítimas. “Tenho juntado todos os jornais com essas mensagens e envio para os abrigos”, contou Maki.
O Asahi Shougakusei também tem dado dicas para os pais de como lidar com crianças abaladas emocionalmente. “Muitas crianças estão estressadas e com medo, depois de ver tantas imagens de destruição na tevê, então passamos a publicar dicas de especialistas para ajudá-las”, conta o editor-chefe.
Formação de leitores
No país com um dos maiores índices de leitura do mundo, não é de se estranhar que a garotada ambém tenha uma versão diária de jornal.
O Asahi Shougakusei e o Mainichi Shougakusei têm tiragem diária de 120 mil e 100 mil exemplares (só para assinantes), respectivamente. Só para comparar, a versão adulta do Asahi tem duas edições diárias: a matutina tem 8 milhões de cópias e a vespertina, 3,3 milhões.
Hiroshi Oki explicou que o jornal publica as principais notícias do dia, assim como a versão para adultos. “Ele tem a cara de um jornal normal, mas usamos uma linguagem fácil e direta para falar com as crianças. Além disso, colocamos muitas ilustrações, fotos e infográficos”, contou.
Outro diferencial das versões infantis é o uso de um alfabeto simplificado ao lado dos complicados caracteres japoneses, o que facilita a leitura. “Também contamos com o suporte de uma rede de professores para tirar dúvidas”, contou Maki.
Tanto o Asahi Shougakusei quanto o Mainichi Shougakusei são voltados para estudantes do primário, dos 6 aos 12 anos.