Um intenso tiroteio com armas pesadas aconteceu neste sábado no bairro do palácio presidencial de Abidjan, cenário de combates entre as forças do presidente Laurent Gbagbo e do presidente eleito Alassane Ouattara. Também neste sábado, o governo de Ouattara anunciou ter localizado valas comuns na região oeste do país e acusou os partidários de Gbagbo. Os disparos começaram às 12H15 (9H15 de Brasília), depois de uma noite e manhã relativamente tranquilas, com apenas alguns tiros esporádicos. O palácio presidencial é um dos últimos redutos sob poder das forças de Gbagbo em Abidjan, a capital econômica do país, onde chegaram na quinta-feira os homens de Alassane Ouattara, reconhecido como presidente eleito pela comunidade internacional, depois de conquistar quase todo o país. O governo de Ouattara decretou um cessar-fogo das 12H00 de sábado às 6H00 de domingo. O governo do presidente marfinense reconhecido pela comunidade internacional anunciou ter encontrado valas comuns no oeste do país. "O Executivo de Ouattara quer informar à opinião pública nacional e internacional sobre a descoberta de diversas valas comuns no oeste do país, sobretudo em Toulepleu, Blolequin e Guiglo, cujos autores não são outros que as forças leais, os mercenários e as milícias de Laurent Gbagbo", afirma um comunicado recebido pela AFP. As acusações do lado de Ouattara foram feitas depois do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) ter anunciado que pelo menos 800 pessoas morreram na terça-feira, 29 de março, em atos violentos em Duékoué, oeste do país. "Dados sobre o assunto foram reunidos por delegados do CICV que foram ao local nos dias 31 de março e 1º de abril", precisou à AFP uma porta-voz do Comitê, em Genebra, Dorothea Krimitsas. Ela contou que os delegados da Cruz Vermelha viram "uma grande quantidade de corpos". "Tudo parece indicar que se trata de atos de violência entre as comunidades", acrescentou a porta-voz. Segundo a Cruz Vermelha, "dezenas de milhares de mulheres, homens e crianças" fogem dos combates e saques na cidade desde segunda-feira passada. A cidade e seus arredores já foi duramente atingida várias vezes pela violência. Importante cruzamento estratégico do Oeste, Duékoué é controlada desde terça-feira por forças de Ouattara, ao final de dois dias de combates com militares e milícias fiéis a Gbagbo. Ao mesmo tempo, militares fiéis a Gbagbo convocaram uma mobilização das tropas para "proteger as instituições da República", em uma mensagem divulgada pelo canal de televisão estatal RTI. Um militar, acompanhado por uma dezena de membros das Forças de Defesa e Segurança (FDS), leu o "comunicado número 1" em rede, no momento em que os membros das FDS leais a Gbagbo defendem os últimos redutos do regime ante as forças de Alassane Ouattara, reconhecido como presidente pela comunidade internacional. "As posições das FDS foram atacadas por hordas de combatentes espontâneos, apoiados sobretudo pelas forças da ONUCI (missão da ONU) e da (força francesa) Licorne", declarou. "As FDS querem destacar sua determinação a cumprir com seu dever de proteger as pessoas, bens e instituições da República da Costa do Marfim. Por isto pedem ao conjunto das Forças Armadas que se una às cinco unidades situadas em Abdijan, a capital. O campo de Gbagbo anunciou na sexta-feira que recuperou a RTI, símbolo do regime, depois que as forças pró-Ouattara conquistaram a emissora. Além disso, 1.400 estrangeiros, um terço deles franceses, estão reunidos em um acampamento militar francês de Port-Bouët, perto de Abdijan.