O esquerdista Ollanta Humala, favorito ao segundo turno na eleição deste domingo no Peru, está sendo criticado pelo apoio que estaria recebendo do governo brasileiro.
Humala admitiu a assessoria mas, segundo ele, isto nada tem a ver.
"Eles possuem uma pequena empresa, que está trabalhando ao meu lado no comando da campanha", disse o candidato nesta terça-feira, rejeitando a hipótese de que isso signifique uma intromissão externa.
"Não há nada disso, rejeito com veemência, não aceitamos ingerência nem de governos nem de partidos, a assessoria não é do PT", insistiu.
Humala esclareceu também que os autores da estratégia que levou Lula à presidência nas eleições de 2002 não estão presentes em sua campanha.
Lula e Chávez
A vinculação com os assessores brasileiros surge logo depois de seus detratores ligarem sua imagem à do presidente venezuelano, Hugo Chávez - um dos fatores da derrota de Humala nas presidenciais de 2006.
A presença de assessores estrangeiros é comum no Peru. No começo do ano esteve em Lima o venezuelano Juan José Rendón, especialista em imagem, para aconselhar o ex-prefeito da capital e candidato Luis Castañeda, que vinha perdendo terreno entre o eleitorado.
A filha de Fujimori
A cinco dias do 1º turno da eleição, a aspirante Keiko Fujimori (direita) enfrenta a recordação do golpe dado por seu pai, o ex-presidente Alberto Fujimori, no dia 5 de abril de 1992, fechando o Congresso e destituindo magistrados do Poder Judiciário.
Leia Mais
Dilma deve aproveitar cúpula no Peru para se reunir com Chávez e SantosWikiLeaks: Lula saudou eleição no Peru em 2006 como revés para ChávezWikileaks: EUA consideram o Mercosul um organismo anti-americanoPresidente eleito do Peru chega quinta-feira a Brasília para encontro com DilmaBoca-de-urna: Humala vence eleições no PeruHumala e Fujimori protagonizam corrida eleitoral acirrada no PeruKeiko Fujimori: candidata presidencial em nome do paiPeru: candidato Humala cancela viagem ao Brasil na última horaCandidato à presidência do Peru, Humala viaja ao Brasil para encontrar DilmaNo Peru, Keiko Fujimori amplia vantagem na corrida presidencialCongresso do Peru ratifica limites marítimos com EquadorNo Peru, documento indica ligação de Humala e ChávezLula e missão pró-Kadafi participam de Foro na NicaráguaNo Peru, pesquisa mostra empate entre Humala e KeikoHugo Chávez promove novo bloco regional: CelacHumala: Brasil poderá ser 'sócio' comercial do PeruVargas Llosa afirma que não votará em Keiko FujimoriPeru: Humala vence eleição e enfrenta Fujimori no 2º turnoPeru: Pesquisas apontam que Humala passará para 2º turnoLula agora diz que discorda de Kadafi, mas aceitaria mediar crise na LíbiaA aspirante, que disputa o segundo lugar num eventual segundo turno com o centrista Toledo e o direitista Pedro Pablo Kuczynski, representa um "fujimorismo renovado", segundo Alejandro Aguinaga, médico pessoal do ex-presidente e líder do fujimorismo.
"Keiko foi bem clara ao dizer que não haverá outro 5 de abril porque o fujimorismo evoluiu e dá mostras de estar para a par com a democracia".
Mas Kuczynski afirmou, em Cuzco, que ninguém pode se esquecer do fechamento do Congresso.
"Lembrem-se do dia 5 de abril. É preciso defender a democracia, isso é importante", expressou Kuczynski.
A candidata disse há alguns dias que seu pai "tinha mensagem forte e clara, necessária para derrotar o terrorismo e pôr de pé a economia do país".
Grupos de direitos humanos realizaram numa praça central de Lima um dia de repúdio ao golpe, denunciando crimes contra os direitos humanos praticados pelo governo Fujimori e a corrupção generalizada que levou o regime ao descalabro, há pouco mais de uma década.
Resposta do Brasil
O embaixador do Brasil no Peru, Jorge d'Escragnolle Taunay Filho, afirmou nesta terça-feira em tom categórico que seu país não intervém nas eleições peruanas, como denuncia a imprensa local - devido à assessoria dada por brasileiros ao candidato de esquerda, Ollanta Humala.
"O governo de Brasília e a embaixada não se intrometem" no pleito, declarou o diplomata a jornalistas, em Lima.
"Este é um princípio básico da política internacional brasileira, de nossa política externa, a não intromissão nos assuntos internos de outros Estados, principalmente em países tão amigos como o Peru. Não participamos, não nos metemos", declarou.
O embaixador explicou que é muito comum "especialistas em marketing político internacionais irem de um país a outro contratados para fazer diversas campanhas; não é uma situação única".
Precisou que "a embaixada não tem conhecimento oficial disto. Nunca os vi, não há nenhum desígnio maléfico da parte do governo (do Brasil) como alguns estão dizendo na imprensa, não existe nada disso", insistiu.
"Estamos felizes de ver que o processo democrático caminha bem no Peru e fazemos votos para que o processo eleitoral seja um grande êxito, mas isso é tudo", finalizou.