RESPOSTA - A extensão das zonas afetadas dependerá muito das condições meteorológicas no momento das emissões de radioatividade: dos ventos, da chuva ou neve que empurram a contaminação para a terra ou tendem a concentrar-se nas zonas baixas. Levando em consideração a duração das emissões e o relevo acidentado do arquipélago, é muito provável que aconteçam "contaminações espalhadas" em dezenas de quilômetros ao redor de Fukushima, como aconteceu no leste europeu depois de Chernobyl em 1986.
P - A contaminação é duradoura?
R - Se fala de anos e até décadas. A situação depende, no entanto, da concentração dos vestígios de radioatividade e dos elementos contidos. As principais fontes de contaminação são o iodo 131 e o césio 134 e 137. Após vários meses, o iodo, que perde a metade da radioatividade em oito dias, desaparece totalmente. A radioatividade do césio 137 demora mais de 30 anos para cair à metade.
P - Isto significa que todas as zonas contaminadas devem ser evacuadas por décadas?
R - Tudo dependerá das medidas executadas no local. Para as zonas mais contaminadas, será necessário afastar as pessoas que podem correr o risco de estar expostas a doses de radioatividade perigosas para a saúde. Este é o caso desde que aconteceu o acidente em um raio de 20 km ao redor da central nuclear.
Em outras zonas, os habitantes podem levar uma vida normal, mas abster-se de consumir os alimentos locais. E nas zonas mais afastadas, a população poderá viver e cultivar alimentos, mas desde que os produtos sejam submetidos a controles de radioatividade.
A experiência de Chernobyl ensinou, por exemplo, aos habitantes de determinadas zonas em quais florestas poderiam entrar e onde poderiam deixar o gado pastar.
P - Quais os meios para descontaminar?
R - Os especialistas preferem usar a palavra "reabilitação" para insistir no fato de que é impossível voltar à situação prévia ao acidente, mesmo que a contaminação possa ser reduzida de maneira importante.
Segundo os estudos efetuados na França, o mais urgente é tratar as zonas menos afetadas, pois são as áreas em que a população permanecerá.
As autoridades nucleares francesas recomendam limpar em primeiro lugar os "meios edificados" onde se concentra a população. Tetos, paredes, estradas e calçadas podem ser limpos sob pressão quantas vezes for necessário.
A vegetação, que atrai depósitos radioativos em suas folhas, pode constituir de 20% a 30% dos elementos expostos em meio urbano. É possível cortar a grama, podar árvores e cortar matagais.
Em longo prazo e em algumas zonas delicadas como pátios de escolas ou hospitais é possível reduzir a contaminação limpar os solos ou cobri-los com uma nova camada de terra ou asfalto.
Nas zonas agrícolas adubo rico em potássio deve ser usado para limitar a absorção de césio pelas raízes dos cultivos.
Fontes: Thierry Charles, diretor de segurança do Instituto de Radioproteção e de Segurança Nuclear (IRSN); Jean-Luc Godet, diretor de Radiações Ionizantes e de Saúde da Autoridade de Segurança Nuclear (ASN); Michel Bourguignon, comissário na ASN e Isabelle Mehl Auget, diretora da missão de preparação para um acidente nuclear na ASN.