A polícia francesa prendeu 61 manifestantes que se preparavam para fazer um protesto em Paris contra a lei que proíbe mulheres muçulmanas de usarem os véus tradicionais em sua religião. A lei entra em vigor na próxima segunda-feira.
Segundo o porta-voz da polícia, Nicolas Lerner, 59 pessoas foram presas quando se preparavam para iniciar a manifestação na Place de la Nation, na zona leste da cidade. As duas outras pessoas foram detidas nas fronteiras francesas: eram manifestantes que vinham da Bélgica e do Reino Unido para participar do protesto.
Lerner disse que a ordem de proibir a manifestação foi emitida na noite desta sexta-feira, porque os protestos seriam "claramente uma incitação à violência e ao ódio racial" e porque foram convocadas manifestações contrárias ao véu islâmico, o que criou a possibilidade de confrontos violentos.
Segundo o documento, aqueles que se opuserem ao cumprimento da lei serão passíveis de uma multa de 150 euros (em torno de 190 dólares). Os maridos ou concubinos (ou outra pessoa) que obrigarem suas parceiras (ou esposas) a usar o véu poderão ser condenados a um ano de prisão e a 30.000 euros de multa.
A indumentária, segundo dados oficiais, só é usada por 2.000 mulheres da maior comunidade muçulmana do continente europeu. A França é o primeiro país a adotar a medida, que é discutida por Suíça, Bélgica, Países Baixos, Dinamarca, Itália, Espanha e Alemanha em diversos níveis.
Política dúbia
A proibição do véu islâmico integral ocorreu depois de um fracassado debate sobre a identidade nacional, impulsionado pelo presidente francês, que não hesitou em vincular a imigração e delinquência e que nas últimas semanas defendeu outro debate sem êxito sobre o laicismo.
"Se vêm para a França, aceitam unir-se em uma só comunidade, que é a comunidade nacional. E se não quiserem aceitar, não podem ser bem-vindos na França", afirmou em fevereiro o presidente que nesta semana fez uma homenagem solene ao poeta martinicano Aimé Cesaire e à diversidade, em uma atitude que alguns qualificam de "tática do jogo duplo" com vistas à reeleição.