Muçulmanas são presas na França em manifestação contra proibição do véu islâmico
Drider, que fez aparições regulares na mídia internacional vestindo seu véu marrom e creme nos dias anteriores à proibição, afirmou que levantou o véu brevemente e apenas na frente de policiais femininas para uma verificação de identidade.
Separadamente, o empresário e ativista Nekkaz Rachid disse à AFP que ele e uma amiga que usava o niqab foram presos pela polícia na frente do Palácio do Eliseu.
"Quisemos receber uma multa por vestir o niqab, mas o policial não quis aplicar a multa", disse Nekkaz, que prometeu levar a leilão um imóvel de dois milhões de euros para inaugurar um fundo para pagar multas por utilização de véu.
A polícia francesa teme que a lei seja impossível de ser aplicada, já que eles não têm o poder de utilizar a força para remover o véu, e podem enfrentar ainda forte resistência em bairros de imigrantes já cercados de tensão.
"A lei será infinitamente difícil de ser aplicada, e será raramente aplicada", afirmou Manuel Roux, subsecretário geral do Sindicato de Delegados de Polícia, em uma entrevista à rádio France Inter.
"Não é para a polícia demonstrar zelo", ele disse, prevendo que quando policiais encontrarem mulheres com véu, eles simplesmente tentarão explicar a lei e persuadí-las a remover o niqab.
"Se elas se recusarem, a situação torna-se complicada. Não temos poder para forçá-las", ele disse. "Eu não posso começar a imaginar que vamos dar alguma atenção a uma mulher com véu em uma área sensível, onde os homens são orgulhosos".
Mas o ministro do Interior, Claude Gueant, insistiu que a lei será aplicada em nome do "secularismo e da igualdade entre homens e mulheres... dois princípios os quais não podemos comprometer".
"A polícia e os gendarmes estão lá para aplicar a lei e eles vão aplicar a lei".
A lei entrou em vigor em um momento tenso nas relações entre o Estado e a minoria muçulmana na França, com Sarkozy acusado de estigmatizar o Islã para tomar os votos da extrema-direita que ressurge.
Autoridades francesas estimam que cerca de 2 mil mulheres, de uma população muçulmana total estimada entre quatro e seis milhões, utilize o véu integral, tradicional em algumas partes do mundo árabe e no sul da Ásia.
Muitos muçulmanos e ativistas de direitos humanos afirmam que o presidente de direita ataca um dos grupos mais vulneráveis da França para sinalizar aos eleitores anti-imigração que ele compartilha o temor de que o Islã é uma ameaça à cultura francesa.
"As mulheres na França têm o direito à liberdade de religião e de expressão. Elas também devem ser livres para protestar quando esse direito é violado", afirmou John Dalhuisen, diretor da Anistia Internacional.
"Esta lei coloca a França na vergonha - um país que se orgulha de direitos humanos, que pretende promover e proteger, com liberdade de expressão incluída".
Mas na França o apoio à proibição divide a esquerda.
Embora a maior parte dos legisladores da oposição se abstiveram de votar a lei, 20 a apoiaram e algumas feministas tradicionalmente associadas à esquerda apoiaram a proibição de uma vestimenta que elas acreditam que humilha as mulheres.
Quem se recusar a levantar o véu para se submeter a um controle de identidade pode ser levado para uma delegacia. Lá, os oficiais devem tentar persuadir a pessoa a retirar a vestimenta, e podem ainda ameaçar com multas.
Uma mulher que insistir repetidamente em aparecer com véu em público pode ser multada em 150 euros (216 dólares), além de ser obrigada a frequentar aulas de reeducação.
Há penalidades mais severas para quem for acusado de forçar outrem a esconder seu rosto "através de ameaças, violência, coação, abuso de autoridade ou poder em razão de seu sexo."