O governo sírio aprovou um projeto de lei para suspender o estado de emergência, uma das principais reivindicações das manifestações populares no país, mais de um mês depois do início do movimento, que ganhou força nos últimos dias.
O regime, entretanto advertiu que aceitará nenhuma nova manifestação no país, onde quatro pessoas morreram vítimas da repressão da polícia na terça-feira em Homs, a 160 km de Damasco, segundo um ativista dos direitos humanos.
A lei emergencial data de 1962, e está em vigor desde que o Partido Baath chegou ao poder, um ano depois. No último sábado, o presidente Bashar Al Assad prometera que o decreto seria abolido "em no máximo uma semana".
O estado de emergência reduz as liberdades públicas, impõe restrições à liberdade de reunião e deslocamento e permite a prisão de "suspeitos ou pessoas que ameaçam a segurança".
O governo também aprovou projetos de lei para abolir a Corte de Segurança do Estado e para regulamentar o direito à manifestação, informou a agência oficial Sana.
Apesar desta concessão, o regime de Assad - que chegou ao poder em 2000 depois da morte de seu pai, Hafez - afirmou pouco antes que não aceitaria nenhuma nova manifestação "sob nenhuma hipótese".
Inspiração
Mais de um mês após o início do movimento de protesto, inspirado pelas revoltas que se espalharam pelo mundo árabe, as manifestações se estenderam para várias cidades do país e se tornaram mais radicais, passando de uma demanda por reformas a apelos pela queda do regime.
Em Homs, a vigília pacífica da noite de segunda-feira pedia a saída de Assad. Os manifestantes, entretanto, foram brutalmente dispersados pelas forças de segurança, segundo uma ativista dos direitos humanos em Damasco, que falou em "vários disparos".
Em um cartaz exibido pelos manifestantes, era possível ler: "alauíta, sunita, cristão, curdo = unidos". A ideia é deixar bem claro que o movimento não tem cunho religioso, e sim pró-democracia.
Desde 1963, o poder político na Síria está sob controle da minoria alauíta - braço do islã xiita - e do partido Baath. Os sunitas formam a maioria da população.
"Mais de 20.000 pessoas participam da vigília na praça Al Saa (Praça do Relógio), que rebatizamos de praça Al-Tahrir depois da rebelião do Cairo", declarou Najati Tayyara, ativista dos direitos humanos. Os manifestantes montaram barracas e levaram comida para a praça.
Mortes
As autoridades afirmaram que cinco oficiais do exército e três crianças morreram nas últimas 24 horas, atacados por "grupos criminosos armados" na região de Homs. De acordo com ativistas, onze manifestantes antigoverno morreram no último domingo.
Pouco depois do início da vigília em Homs, o ministério do Interior prometeu combater "uma rebelião armada dos grupos salafistas" (sunitas radicais).
Desde o começo do movimento, em 15 de março, o regime acusou quadrilhas "armadas" ou "criminosas" de disparar contra os manifestantes e as forças de segurança.
Nesta terça-feira, a imprensa oficial também acusou os Estados Unidos de estarem por trás das manifestações.
"A todos os que apostam (na queda do regime), dizemos: não apostem, pois vão perder", indicou o diário oficial As Saura.
Pelo menos 200 pessoas já foram mortas na Síria desde o início das manifestações contra o governo, segundo a Anistia Internacional, enquanto centenas foram presas.