As pressões políticas aumentaram sobre o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, após mais de 200 parlamentares alertarem nesta quarta-feira que ele precisa obedecer a ordem do líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei, e reempossar no cargo o poderoso ministro da Inteligência (espionagem), Heidar Moslehi.
A disputa que envolve o cargo de Moslehi trouxe novas especulações de que Ahmadinejad e seus aliados tentam conquistar mais poder e desafiar a autoridade do líder supremo da república islâmica. A disputa também mostrou mais fissuras no núcleo do governo de Ahmadinejad, à medida que sua base de poder encolhe entre os parlamentares.
Moslehi renunciou ao cargo no domingo, após supostas disputas internas com Ahmadinejad. O presidente aceitou publicamente a renúncia do ministro. Mas apenas algumas horas depois, o aiatolá Khamenei ordenou que Moslehi permaneça no posto. Ele teve um papel crucial na repressão aos milhares de manifestantes que em 2009 foram às ruas contestar a reeleição de Ahmadinejad a presidente.
Um comunicado assinado por 216 parlamentares - mais de dois terços dos 290 membros do Parlamento - alertou hoje a Ahmadinejad que ele não pode ignorar Khamenei, que possui a palavra final em todos os assuntos de Estado no Irã. "O Parlamento não espera nada além de uma total obediência à ordem, sem nenhum questionamento. Khamenei está acima dos três corpos de poder e o braço executivo (o presidente Ahmadinejad) está sob o líder supremo", informou o comunicado, assinado pelo deputado Hossein Naqavi e publicado pela agência paraestatal Fars.
Ahmadinejad ainda possui partidários influentes, entre eles a Guarda Revolucionária. Mas as atuais tensões mostram um afastamento que se amplia entre Ahmadinejad e Khamenei, que já demonstrou no passado descontentamento com a enorme ambição do presidente.
A mídia linha-dura afirma que Moslehi, o único clérigo no gabinete, foi forçado a renunciar após ter demitido um dos seus mais próximos colaboradores, Hossein Abdollahi. Isso sem consultar Ahmadinejad. Mas o verdadeiro motivo da disputa parece ser o conselheiro de Ahmadinejad, Esfandiar Rahim Mashaei, cujos pontos de vista ultrajaram a linha-dura, incluída a visão de que a ideologia iraniana deveria possuir precedência sobre a promoção do Islã no palco mundial.
Mashaei também criticou a inteligência iraniana por seus "fracassos" ao não ter previsto as convulsões políticas e revoluções em curso nos países árabes. Os levantes populares já levaram vários governantes e ditadores sunitas a acusarem o Irã, xiita, de maquinar e incitar as conspirações.
A intervenção de Khamenei no assunto Moslehi deixou Ahmadinejad praticamente sem alternativas: ou ele esnoba e ignora abertamente o líder supremo do país e se arrisca a perder mais poder, ou se submete à ordem do teocrata, reinstala Moslehi no cargo e perde prestígio em uma luta política de alto escalão, que é observada de perto pelo país inteiro.
Um website governista, o dolateyar.com, postou um comunicado hoje citando Ahmadinejad, que teria dito que não reconhece Moslehi como chefe da inteligência. Algumas horas mais tarde, a pequena matéria foi retirada do ar. Mas o website ainda mostra a renúncia de Moslehi e não faz nenhuma menção à rejeição de Khamenei.