Nesta quarta-feira os lideres das facções palestinas rivais Fatah e Hamas assinaram no Cairo um acordo de reconciliação depois de quase quatro anos de cisão, em que a população dos territórios ocupados viveu sob dois governos.
Desde 2007, o Fatah do presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, governa a Cisjordânia, e o Hamas, liderado pelo primeiro-ministro Ismail Haniyah, controla a Faixa de Gaza.
O acordo abre caminho para um governo interino que trabalhe de forma conjunta e ponha fim às divisões, antes das eleições gerais de 2012.
De acordo com analistas, esse é o primeiro sinal de como as mudanças políticas no mundo árabe podem ter afetado a dinâmica do conflito entre Israel e palestinos.
Em que consiste o acordo entre Fatah e Hamas?
O acordo estabelece a criação de um governo de tecnocratas - em vez de políticos de afiliações ou ideologias que possam ser vistas como radicais ou inflexíveis. O nogo governo terá duas tarefas principais: preparar eleições parlamentares e presidenciais para daqui a um ano, e reconstruir a Faixa de Gaza. Grande parte da infraestrutura da região foi destruída durante a ofensiva israelense em dezembro de 2008 e janeiro de 2009.
O acordo não toca nos principais pontos de divergência entre as facções, como a natureza do acordo de paz com Israel e questões religiosas.
Houve várias tentativas de reconciliação entre as facções palestinas que fracassaram. Por que justamente agora elas chegaram a um acordo?
Durante estes quatro anos houve várias iniciativas para tentar reaproximar as duas facções, algumas delas promovidas por importantes países árabes, como o Egito e a Arábia Saudita. Prisioneiros palestinos em prisões israelenses - que representam várias facções - também teriam tentado alcançar acordos para aproximar Fatah e Hamas.
Os fatores determinantes para a mudança de atitude, entretanto, foi a chamada Primavera Árabe, como são chamados os movimentos pró-democracia que varrem vários países do Oriente Médio.
O Fatah perdeu um importante ponto de apoio com a queda de Hosni Mubarak. O Hamas, por sua vez, teme que as revoltas em andamento na Síria culminem com a queda do presidente da Síria, Bashar al-Assad, um de seus principais aliados na região.
Além disso, o presidente Mahmoud Abbas, do Fatah, anunciou que irá pedir o reconhecimento do Estado Palestino pela ONU em setembro, e já obteve apoio de mais de 140 dos 192 países-membros das Nações Unidas. De acordo com analistas locais, o Hamas chegou à conclusão de que "não pode perder o trem" e ficar excluído da iniciativa.
Também na esteira dos movimentos pró-democracia na região, milhares de jovens palestinos vêm se organizando por mídias sociais como o Facebook, iniciando um movimento que pede a reconciliação das facções.
Como Israel reagiu ao anúncio da reconciliação?
Uma hora depois do anúncio, o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, declarou que o Fatah "terá que escolher entre a paz com Israel ou com o Hamas".
O Gabinete israelense já afirmou que não irá negociar com um governo palestino que inclua o Hamas, pois o considera "um grupo terrorista que quer destruir Israel".
Como a Autoridade Palestina reagiu ao ultimato?
O presidente Mahmoud Abbas rejeitou o ultimato e afirmou que o governo de união palestino é um "assunto interno palestino".
Abbas disse que todos os assuntos relacionados ao processo de paz com Israel continuarão sob controle da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), chefiada por ele, e que o novo governo de união, que incluirá o Hamas, não lidará com esses assuntos.
O presidente palestino reiterou o compromisso da OLP com os acordos firmados com Israel, e disse que vai prosseguir com os esforços para alcançar um acordo de paz baseado no princípio de dois Estados.