Cristãos egípcios estão realizando uma vigília de protesto na capital, Cairo, acusando militares de não tê-los protegido durante os confrontos com muçulmanos, que deixaram 12 pessoas mortas e 180 pessoas feridas no sábado.
A vigília está sendo realizada perto da praça Tahrir, palco dos protestos que levaram à deposição do presidente Hosni Mubarak, em fevereiro. Três dias de luto oficial foram decretados em homenagem aos mortos.
Os confrontos foram o mais recente enfrentamento entre cristãos e muçulmanos desde a queda de Mubarak.
Testemunhas afirmaram que centenas de muçulmanos integrantes do movimento salafista se reuniram na Igreja Copta de Santa Mena, no bairro populoso de Imbaba, na noite de sábado.
Eles protestavam contra a alegação de que uma mulher cristã estava sendo forçada a permanecer na igreja porque se casara com um muçulmano e queria se converter ao islamismo.
Mas a mulher contestou as alegações em uma entrevista a um canal de TV cristão.
Violência
O que teria começado como uma discussão entre manifestantes, seguranças da igreja e moradores das proximidades evoluiu para um confronto envolvendo armas, bombas incendiárias e pedras.
Duas igrejas e algumas casas do bairro foram incendiadas e foram necessárias algumas horas para que os serviços de emergência e militares controlassem a situação.
No domingo, centenas de manifestantes se concentraram do lado de fora da sede da TV estatal local, exigindo a renúncia do comandante do conselho militar do Egito, general Mohamed Hussein Tantawi.
Quando eles se confrontaram com um grupo de muçulmanos conservadores, os combates voltaram a ocorrer e os dois grupos arremessaram pedras uns contra os outros.
Mas islâmicos moderados chegaram a participar dos protestos ao lado dos cristãos.
Medidas
Como forma de impedir futuros atos de violência, o Conselho Supremo das Forças Armadas - o colegiado de líderes militares que atualmente administra o Egito - disse que efetuou a prisão de 190 pessoas.
Os enfrentamentos levaram a uma reunião de gabinete de emergência encabeçada pelo primeiro-ministro Essam Sharaf, que adiou uma visita ao exterior para realizar o encontro.
Pouco após a reunião, o ministro da Justiça egípcio, Abdel Aziz al-Gindi, afirmou que o governo vai agir ''imediatamente e com firmeza" para "implementar leis que possam criminalizar ataques contra locais de culto e contra a liberdade religiosa''.
Entre as punições previstas para os infratores estaria até a pena de morte.
O repórter da BBC no Cairo, Jonathan Head, disse que outras promessas de medidas duras contra os agressores já foram feitas antes, mas poucas ações concretas foram tomadas.
Vácuo
Desde a deposição de Mubarak, o Egito vive um vácuo de segurança, com a desacreditada polícia do país procurando se manter distante de conflitos entre comunidades.
Segundo o repórter da BBC, grupos radicais islâmicos salafistas eram uma presença rara nos dias de Mubarak, mas agora têm sido capazes de realizar protestos agressivos contra supostas ameaças ao Islã.
Durante as manifestações que provocaram a saíde de Mubarak, cristãos e muçulmanos protestaram lado a lado e se ofereceram proteção mútua durante pausas para orações de suas respectivas crenças.
Mas em março, 13 pessoas foram mortas em confrontos sectários em outra área do Cairo diferente daquela em que a violência foi deflagrada no sábado.
Ainda no mês passado, manifestantes interromperam todas as vias de transporte com o Cairo por uma semana, em protesto contra a indicação de um governador cristão para comandar uma província.