Uma juíza de Nova York negou nesta segunda-feira um pedido de fiança para o diretor-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional), Dominique Strauss-Kahn, preso desde o sábado sob a acusação de agressão sexual, cárcere privado e tentativa de estupro.
Em uma audiência na cidade americana, a juíza Melissa Jackson decidiu que ele deverá permanecer preso, para evitar que saia do país e evite participar do julgamento.
Os advogados de defesa de Strauss-Khan voltaram a afirmar que ele nega as acusações, apresentadas por uma camareira de um hotel de Nova York onde ficou hospedado.
O diretor-gerente do FMI deveria ter ido ao tribunal no domingo, mas o comparecimento foi adiado para que exames e análises científicas fossem realizados.
Nos exames a que foi submetido, os peritos buscaram lesões que indicassem uma possível luta com a camareira e traços de DNA da suposta vítima.
Acusação
Também nesta segunda-feira, também surgiram outras acusações contra Strauss-Kahn. Uma escritora francesa afirma que poderá entrar com uma denúncia devido a uma suposta agressão sexual em 2002.
O diretor-gerente do FMI, que é casado e tem 62 anos, foi preso no sábado à tarde, quando já estava sentado na primeira classe de um avião da Air France prestes a decolar para Paris.
Ele vem sendo considerado um possível candidato à Presidência da França pelo Partido Socialista.
Um porta-voz da polícia de Nova York, Paul Browne, disse à BBC que as acusações foram feitas por uma mulher de 32 anos de origem africana que trabalha como camareira no hotel Sofitel, perto de Times Square, onde o chefe do FMI estava hospedado.
Ela disse que o hóspede saiu nu do banheiro enquanto ela limpava a suíte de luxo do hotel, que custa US$ 3 mil por noite.
"Recebemos uma denúncia de que uma camareira em um hotel no centro de Manhattan tinha sido abusada sexualmente pelo ocupante de uma suíte de luxo naquele hotel, e que este indivíduo tinha fugido", Browne disse à BBC.
"A camareira disse ter sido atacada violentamente, trancada no quarto e abusada sexualmente", disse ele.
Telefone celular
Segundo testemunhas que estavam no hotel, Strauss-Kahn deixou o local às pressas, esquecendo seu telefone celular e outros pertences pessoais.
Ele teria então ligado do aeroporto para a recepção do hotel, pedindo que o aparelho fosse devolvido, mas a polícia já havia sido acionada no caso e equipes foram mandadas para o JFK.
"Nossos investigadores pediram às autoridades aeroportuárias que impedissem o avião de partir, foram até o aeroporto e o levaram sob custódia", afirmou Browne.
"Se tivéssemos demorado mais dez minutos, ele já estaria voando a caminho da França", disse.
Segundo Browne, a camareira foi atendida em um hospital para o tratamento de pequenos ferimentos. Mais tarde, ela identificou o ex-ministro das finanças francês como o homem que a teria atacado.
Strauss-Kahn não tem imunidade diplomática e estava em Nova York por motivos particulares.
Esposa
A esposa de Strauss-Kahn, a proeminente jornalista francesa Anne Sinclair, disse acreditar que seu marido é inocente.
"Eu não acredito por um segundo sequer nas acusações levantadas contra meu marido", disse Sinclair em um comunicado.
Na França, alguns viram a prisão como uma humilhação nacional, enquanto outros sugerem que pode se tratar de um complô criado por seus opositores políticos.
O diretor-gerente do FMI contratou como chefe de sua equipe de defesa o criminalista americano Benjamin Brafman, que já representou várias celebridades com sucesso, inclusive os rappers P. Diddy e Jay-Z.
Seus advogados disseram no domingo que Strauss-Kahn estava "cansado, mas bem" e que ele "pretende se defender vigorosamente destas acusações e nega ter cometido qualquer delito".
Carreira política
O FMI informou que o vice-diretor-gerente do fundo, John Lipsky, ocupará interinamente o cargo de diretor-gerente durante a ausência de Strauss-Kahn.
A cotação do euro em relação ao dólar caiu ao ponto mais baixo em seis semanas nesta segunda-feira, influenciada pelo anúncio da prisão.
Strauss-Kahn participaria nesta segunda-feira de uma reunião em Bruxelas sobre a concessão de ajuda financeira à Grécia e a outros países endividados da zona do euro.
As acusações contra Strauss-Kahn também mudaram o cenário da corrida presidencial francesa.
Sua candidatura ainda não havia sido anunciada, mas era esperado que ele concorresse à Presidência pelo Partido Socialista, já que pesquisas de opinião mostravam que ele contava com boa vantagem sobre o atual presidente Nicolas Sarkozy, que deve concorrer à reeleição em abril de 2012.
'Erro de julgamento'
Strauss-Kahn concorreu à liderança do Partido Socialista Francês em 2006, mas foi derrotado por Ségolène Royale, que foi depois derrotada por Sarkozy nas últimas eleições presidenciais, em maio de 2007.
Strauss-Kahn foi então nomeado diretor-gerente do FMI em setembro de 2007, com o apoio de Sarkozy.
Ele ganhou elogios por sua atuação à frente do FMI, que dirigiu durante momentos difíceis, incluindo a recente crise financeira global.
Mas ele foi investigado em 2008 pelo conselho do FMI sobre o seu relacionamento com uma mulher que fazia parte de sua equipe.
O conselho determinou que suas ações "refletiram um sério erro de julgamento", mas que o relacionamento com a mulher havia sido consensual.
Na ocasião, Strauss-Kahn pediu desculpas aos funcionários do FMI e à sua mulher.