Dois meses após a renúncia do governo de José Sócrates, a campanha eleitoral foi iniciada oficialmente neste domingo em Portugal para determinar se serão os socialistas ou os de centro-direita os responsáveis por aplicar o impactante plano de resgate acordado com a UE e o FMI. A duas semanas das eleições legislativas antecipadas de 5 de junho, as pesquisas apontam uma pequena vantagem para o líder da oposição de centro-direita, Pedro Passos Coelho, de 46 anos, embora ele não tenha a experiência ou as qualidades de orador do ex-primeiro-ministro Sócrates. Segundo as pesquisas publicadas durante o fim de semana, o Partido Social Demócrata (PSD, centro-direita, oposição) conquistaria entre 31,1 e 35,7% dos votos, enquanto o Partido Socialista teria entre 29,5 e 34,1%. O partido de direita CDS-PP se tornaria um parceiro indispensável para formar governo com 13% dos votos.
Na realidade, tanto José Sócrates como Pedro Passos Coelho dispõem de uma pequena margem de manobra, antes de se comprometer para seguir as rigorosas medidas de austeridade e as reformas exigidas pela União Européia, pelo Fundo Monetário Internacional e pelo Banco Central Europeu para diminuir o déficit público de 9,1% do PIB em 2010 para 3% em 2013, em troca de uma ajuda de 78 bilhões de euros. Na noite de sexta-feira em um debate, Sócrates culpou Passos Coelho de ter provocado a intervenção externa do FMI, da UE e do BCE. Segundo ele, não teria sido necessária se a oposição tivesse aprovado o próprio programa de austeridade no fim de março. O primeiro-ministro anunciou sua renúncia após a rejeição do programa. O plano de resgate foi acordado posteriormente. Por sua vez, Passos Coelho acusou o primeiro-ministro, no poder há seis anos, de ter "quase levado o país à falência", por ter se recusado a admitir as dificuldades que enfrentava e por demorar a fazer um inevitável pedido de ajuda. Para o cientista político Carlos Jalali, da Universidade de Avieiro, "esta campanha eleitoral será particularmente importante, não só porque o PS e o PSD estão muito próximos nas pesquisas, mas também pelo grande número de indecisos, que representam um terço do eleitorado", explicou à AFP. "Além da incerteza que caracteriza esta eleição, as pesquisas também mostram a ambivalência dos portugueses, muito críticos com a gestão do governo atual, mas também desacreditados com as alternativas propostas", disse Pedro Magalhães, do Instituto de Ciências Sociais de Lisboa.