Milhares de pessoas protestaram nesta sexta-feira em várias cidades da Síria, na mais importante mobilização contra o regime desde o início da revolta em meados de março, especialmente em Hama (centro), onde a repressão das forças de segurança deixou 34 mortos. Mais de 50.000 pessoas foram para as ruas, em Hama, declarou à AFP o diretor do Observatório Sírio de Direitos Humanos, com sede em Londres, Rami Abdel Rahman. "As forças de segurança mataram ao menos 34 pessoas na cidade, mas esse número poderá aumentar, já que há pessoas que ficaram gravemente feridas", denunciou Rahman. Outro civil morreu por conta dos disparos das forças de segurança na cidade de Has, norte, completou o ativista Rahman. "As manifestações de hoje (sexta-feira) são as mais importantes desde o início do movimento e mesmo depois da anistia anunciada pelo presidente (Bashar al) Assad. Isso demonstra que as pessoas já não têm confiança no regime", estimou o ativista. Opositores do regime qualificaram a situação em Hama de "verdadeiro massacre". A emissora oficial apenas informou a morte em Hama de "três sabotadores, mortos em confrontos com a polícia quando atacavam um edifício governamental ao qual tocaram fogo". O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, disse nesta sexta-feira estar "alarmado" com a repressão do governo aos protestos na Síria, afirmando que já há mais de 1.000 mortos. "O secretário-geral da ONU está alarmado com o aumento da violência na Síria, onde foram registrados ao menos 70 mortos na semana passada, somando assim um total de mais de 1.000 vítimas fatais, diversos feridos e centenas de detidos desde março passado", indicou uma porta-voz da ONU, Vannina Maestracci. Em 1982, uma repressão terrível causou 20.000 mortos em Hama, quando a Irmandade Muçulmana levantou-se contra o regime de Hafez al Assad, pai de Bashar. No norte, dezenas de milhares de pessoas provenientes dos arredores reuniram-se em Maaret al Numan, declarou um militante no local. Mais de 5.500 pessoas protestaram também em Qamichli, Amuda e Ras al-Ain, afirmou à AFP Hasan Berro, militante curdo de direitos humanos. Na costa oeste, em torno de 5.000 pessoas protestaram também na cidade costeira de Banias (oeste), segundo outro militante. No sul, as forças de segurança dispararam para o ar para dispersar uma manifestação em Jasem, perto de Deraa, reduto do movimento de contestação. Milhares de manifestantes reuniram-se também em Damasco e nas localidades próximas, declarou o chefe da Liga Síria de Direitos Humanos, Abdel Karim Rihaui. A agência oficial Sana informou sobre "centenas de pessoas concentradas depois do fim da oração" de sexta-feira em Hama e em outras localidades da província de Idleb (noroeste), mas sem mencionar a intervenção das forças de segurança. A emissora síria estimou em 10.000 o número de manifestantes em Hama. O acesso à Internet estava cortado na sexta-feira pela manhã em Damasco e Latakia, noroeste da Síria, afirmaram à AFP moradores das duas cidades. Há várias semanas, a sexta-feira é o dia de mobilização na Síria. Esta semana, os manifestantes marcharam em homenagem às "crianças da liberdade". Segundo a Unicef, ao menos 30 crianças morreram por disparos da polícia desde 15 de março. A prisão e a tortura de 15 crianças que pintavam slogans contra o regime nos muros de Deraa (sul) foi a faísca que incendiou a rebelião. Mais recentemente, um menino de 13 anos, Hamzeh al Jatib, "torturado e assassinado" segundo militantes pró-democracia, tornaram-se uma das figuras da resistência à brutalidade do regime. A repressão do movimento de contestação já deixou mais de 1.100 mortos desde meados de março, segundo a oposição síria. O anúncio feito na terça-feira de uma anistia geral para os presos políticos e do início de um "diálogo nacional" não conseguiu acabar com os protestos. Os Estados Unidos e a União Europeia lideram a pressão internacional sobre Damasco, através de sanções ao regime, para obter reformas. No entanto, a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, lamentou nesta quinta-feira que a comunidade internacional não tenha ficado mais unida contra o regime sírio, referindo-se, sem mencionar, ao apoio russo à Síria e à falta de uma "ação forte" da Liga Árabe.