Dois meses após a renúncia do primeiro-ministro José Sócrates, os portugueses votam, sem entusiasmo, no domingo para decidir se os socialistas que deixaram o poder ou os liberais serão os responsáveis pela aplicação do plano de ajuda internacional para tirar o país da crise. Na última semana, 25% dos eleitores se declararam indecisos, divididos entre a rejeição a um primeiro-ministro muito impopular e o medo de uma centro-direita que prometeu ir além do "trio de ferro" - União Europeia (UE), Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Central Europeu (BCE) - em matéria de privatizações e reformas do mercado de trabalho e dos serviços públicos. Ao fim de quase duas semanas de campanha, o Partido Social Democrata (PSD, de centro-direita) de Pedro Passos Coelho parece ser o favorito, com 35,8% das intenções de voto contra 32,2% para o Partido Socialista de José Sócrates, de acordo com as pesquisas mais recentes.
O CDS-PP, partido minoritário de direita que também ofereceu apoio aos "objetivos" do plano de ajuda, seguiria sendo a terceira força política do país, permitindo assim uma maioria parlamentar ao grupo da direita. Nos últimos dias, Passos Coelho, de 46 anos, partiu para uma acusação direta na tentativa de angariar mais votos: afirmou que em caso de vitória socialista, Portugal poderia se ver num prazo de "seis meses" na "trágica" situação da Grécia. "Este governo já fracassou", sentenciou ele, acusando Sócrates de ter "mentido aos portugueses sobre o estado real do país", conduzindo-o a "falência". Diferente da Irlanda e da Grécia, em Portugal todos os partidos - com exceção da esquerda antiliberal, que pode sofrer um revés eleitoral - se comprometeram a respeitar, sem ressalvas, as condições do plano de resgate internacional, assinado no início do mês de maio, em troca de um empréstimo de 78 bilhões de euros em três anos. O acordo, assinado com o FMI e a UE, permitiu a Portugal receber 12,6 bilhões de euros para pagar cerca de sete bilhões em dívidas e juros que venceriam em meados de junho. Em troca, o futuro governo terá que reduzir o déficit público de 9,1% do PIB do ano passado para 5,9% este ano, até chegar a 3% em 2013. Para 2011, as medidas emergenciais principais (diminuição dos salários, alta de impostos, supressão de auxílios sociais) já foram aplicadas pelo governo socialista e outras estão previstas para 2012 e 2013, desta vez recaindo sobre os aposentados e indenizações por desemprego. Durante a campanha, José Sócrates ressaltou que lutou "com todas as suas forças" para evitar a intervenção do exterior que, de acordo com ele, poderia ter sido evitada caso a oposição de centro-direita não tivesse rejeitado, em março, seu novo plano emergencial, o que o levou à renúncia. "Provocaram esta crise política para vir o FMI e aplicar com mais facilidade um programa ultraliberal", afirmou, acusando a centro-direita de querer "privatizar a saúde, a educação e destruir o Estado social".