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Estado de Minas

Primo de Jean Charles vai processar tablóide britânico


postado em 15/07/2011 06:46 / atualizado em 15/07/2011 06:48

Alex Pereira teria sido vítima de escutas ilegais pelo News of the World logo depois do assassinato(foto: REUTERS/Mike Finn-Kelcey)
Alex Pereira teria sido vítima de escutas ilegais pelo News of the World logo depois do assassinato (foto: REUTERS/Mike Finn-Kelcey)
Familiares de Jean Charles de Menezes, morto por engano pela polícia britânica numa estação de Londres, em 2005, receberam ontem a informação de que o telefone de pelo menos um dos parentes, o mecânico Alex Pereira, que trabalhava com a vítima na época do assassinato, foi grampeado pelo News of the World, tabloide fechado no domingo, depois de 168 anos de circulação, em razão do escândalo de escutas telefônicas ilegais que atingiram celebridades, como membros da família real, e pessoas anônimas. Até o fechamento desta edição, a polícia inglesa não havia confirmado – pelo menos em público – a suspeita. Por telefone, Alex disse ao Estado de Minas que vai processar o grupo News International, que publicava o jornal.

“Minha advogada, doutora Harriet (Wistrich), me comunicou, via e-mail, que o telefone que usei de 2005 a 2008 foi grampeado. Vou tomar a mesma atitude (que outras vítimas): processar. O que você faria se grampeassem o seu telefone?”, questionou o rapaz, que voltou a Gonzaga, em 2009, para viver ao lado da mãe, dona Lúcia, de 54. “O pesadelo parece que não tem fim. Se o Jean tivesse vivo, falaria para ele que o Brasil é o melhor lugar para se morar”, contou ela. Alex, hoje, prefere não usar celular: “É fácil encontrar as pessoas na cidade pequena”. Gonzaga, no Vale do Rio Doce, a cerca de 300 quilômetros de Belo Horizonte, tem cerca de 7 mil habitantes.

Alex deverá conversar com sua advogada nesta semana. Em Londres, seu irmão Alessandro e as primas Patrícia Armani e Vívian Figueiredo enviaram uma carta ao primeiro-ministro britânico, David Cameron, solicitando que as investigações dos grampos do tabloide também apurem o fato com rigor. “(…) Escrevemos para exortá-lo a fazer tudo dentro do seu poder para assegurar que a polícia investigue rapidamente esse assunto sensível e relate suas investigações para nossa equipe jurídica o quanto antes”, diz o texto.

Alessandro e as primas forneceram à polícia o número de telefones de outros familiares para que a Scotland Yard apure se mais aparelhos teriam sido grampeados. “A família Menezes ficou muito abalada ao descobrir que seus telefones foram grampeados num momento em que se encontrava mais vulnerável. Eles ficaram intrigados por que a polícia não os procurou com essa informação mais cedo e temem que a polícia possa estar tentando encobrir mais uma vez suas falhas relativas a este caso”, disse Yasmin Khan, porta-voz da ONG Justice4, Jean (Justiça para Jean em tradução livre).

A execução de Jean, que manchou a imagem da polícia britânica, famosa por raramente usar armas de fogo, completará seis anos em 22 de julho. A data é lembrada na correspondência encaminhada ao primeiro-ministro. Alessandro, Patrícia e Vívian aproveitaram a carta para lançar suspeita sobre Andy Hayman, ex-comissário-assistente da Polícia Metropolitana de Londres e hoje colunista do diário The Times, que pertence também ao grupo do magnata Rupert Murdosh. Hayman comandou a investigação sobre o grampo telefônico. A suspeita deles é a de que ele teria vazado informações falsas para imprensa “tentando manchar o caráter de Jean”.

SUSPEITA De acordo com o texto enviado pelos familiares de Jean Charles, a recente cobertura de imprensa sobre o grampo telefônico mostra que Hayman teve "um relacionamento próximo, inclusive com possíveis laços financeiros" com o grupo de imprensa. Eles ainda afirmam que "os jornais da News International (a divisão de jornais britânicos da News Corp.) forneceram algumas das mais virulentas e muitas vezes enganadoras coberturas a respeito da morte de Jean e seu resultado".
Por sua vez, em entrevista à BBC Brasil, Vívian afirmou não ter certeza se informações sigilosas sobre o caso foram vazadas pelos jornais da News International. "Não vou dizer exatamente se foram essas companhias. Mas houve alguns momentos em que parecia que coisas estavam sendo vazadas para a imprensa. Não sei como vazaram", afirma.


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