A relação estreita entre jornais do magnata Rupert Murdoch e a polícia britânica não começou com o escândalo do News of the World, tem um histórico de pelo menos 30 anos.
Documentos recém-divulgados pelo Arquivo Nacional britânico mostram como, em 1970, meses após Murdoch ter comprado o tabloide The Sun, o então editor convenceu a Scotland Yard a fazer um grande favor ao jornal.
Meses antes, famoso “assaltante do trem pagador” Ronald Biggs foi visto na Austrália, após fugir da prisão. A polícia local fez uma grande operação para prendê-lo, mas ele conseguiu escapar.
Em abril de 1970, o The Sun obteve um documento de 77 páginas que seria a autobiografia de Biggs. Um advogado de Melbourne teria tentado vendê-lo e um outro jornal de Murdoch, na Austrália, iria publicar a história também. Cada página estava marcada com a impressão digital de Biggs e sua assinatura. Mas como verificar se eram genuínas?
Scotland Yard
O tabloide britânico enviou uma cópia do documento ao comandante da polícia britânica Wallace Virgo, para que a Scotland Yard pudesse autentificar as assinaturas e digitais.
Rapidamente, a polícia checou os dados e confirmou que as digitais batiam com os registros policiais de Biggs, mas que poderia ter sido usado um carimbo para replicá-las. Já as assinaturas seriam falsificadas, provavelmente por uma mulher, já que as letras tinham “características femininas”.
Após dois dias, Virgo passou as conclusões para o editor Larry Lamb – e o jornal passou a ter um furo de reportagem autenticado por ninguém menos que a Scotland Yard.
Quando a notícia foi publicada também no jornal australiano de Murdoch, a polícia local ficou chocada pelo fato de seus colegas britânicos terem “apoiado essa empreitada do jornal e, ajudando um criminoso, terem exposto as duas corporações ao ridículo”. Em seguida, o arquivo registra apenas mais algumas ações da polícia australiana e chega ao fim.
Amizade
Na época, houve crítica ao The Sun já que Biggs era o homem mais procurado da Grã-Bretanha. Houve ainda alguns questionamentos por palamentares. Mas além disso, nenhuma ação real foi tomada.
O jornalista Duncan Campbell, que pesquisa corrupção policial nos anos 70 e 80, vê alguns paralelos entre o escândalo do News of the World e essa “amizade” entre editores e comandantes da polícia.
Mas ele afirma que há diferenças importantes entre os dois casos, principalmente no que diz respeito à escala e à natureza da relação.
Virgo, o chefe da polícia que ajudou o jornal na época, se tornou mais tarde o oficial de mais alta hierarquia da Scotland Yard a ser processado por corrupção, após ser revelado que ele recebia propina de um homem envolvido com pornografia.
Já Biggs vive atualmente na Grã-Bretanha e, aos 81, enfrenta um precário estado de saúde. Em 2001, depois de viver por 35 anos no Brasil, Biggs decidiu voltar para Londes, onde foi preso para cumprir o restante de sua sentença. Ele foi solto oito anos depois, após sofrer uma série de derrames.
Documentos recém-divulgados pelo Arquivo Nacional britânico mostram como, em 1970, meses após Murdoch ter comprado o tabloide The Sun, o então editor convenceu a Scotland Yard a fazer um grande favor ao jornal.
Meses antes, famoso “assaltante do trem pagador” Ronald Biggs foi visto na Austrália, após fugir da prisão. A polícia local fez uma grande operação para prendê-lo, mas ele conseguiu escapar.
Em abril de 1970, o The Sun obteve um documento de 77 páginas que seria a autobiografia de Biggs. Um advogado de Melbourne teria tentado vendê-lo e um outro jornal de Murdoch, na Austrália, iria publicar a história também. Cada página estava marcada com a impressão digital de Biggs e sua assinatura. Mas como verificar se eram genuínas?
Scotland Yard
O tabloide britânico enviou uma cópia do documento ao comandante da polícia britânica Wallace Virgo, para que a Scotland Yard pudesse autentificar as assinaturas e digitais.
Rapidamente, a polícia checou os dados e confirmou que as digitais batiam com os registros policiais de Biggs, mas que poderia ter sido usado um carimbo para replicá-las. Já as assinaturas seriam falsificadas, provavelmente por uma mulher, já que as letras tinham “características femininas”.
Após dois dias, Virgo passou as conclusões para o editor Larry Lamb – e o jornal passou a ter um furo de reportagem autenticado por ninguém menos que a Scotland Yard.
Quando a notícia foi publicada também no jornal australiano de Murdoch, a polícia local ficou chocada pelo fato de seus colegas britânicos terem “apoiado essa empreitada do jornal e, ajudando um criminoso, terem exposto as duas corporações ao ridículo”. Em seguida, o arquivo registra apenas mais algumas ações da polícia australiana e chega ao fim.
Amizade
Na época, houve crítica ao The Sun já que Biggs era o homem mais procurado da Grã-Bretanha. Houve ainda alguns questionamentos por palamentares. Mas além disso, nenhuma ação real foi tomada.
O jornalista Duncan Campbell, que pesquisa corrupção policial nos anos 70 e 80, vê alguns paralelos entre o escândalo do News of the World e essa “amizade” entre editores e comandantes da polícia.
Mas ele afirma que há diferenças importantes entre os dois casos, principalmente no que diz respeito à escala e à natureza da relação.
Virgo, o chefe da polícia que ajudou o jornal na época, se tornou mais tarde o oficial de mais alta hierarquia da Scotland Yard a ser processado por corrupção, após ser revelado que ele recebia propina de um homem envolvido com pornografia.
Já Biggs vive atualmente na Grã-Bretanha e, aos 81, enfrenta um precário estado de saúde. Em 2001, depois de viver por 35 anos no Brasil, Biggs decidiu voltar para Londes, onde foi preso para cumprir o restante de sua sentença. Ele foi solto oito anos depois, após sofrer uma série de derrames.