Sindicatos intensificaram uma greve geral na Itália e organizavam manifestações na Espanha nesta terça-feira, como uma forma de protestar contra os esforços dos governos de conter a crise da dívida em dois países cujas economias estão fortemente fragilizadas.
Apesar da greve, o governo do primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, agiu em meio à pressão do mercado e retomou medidas que tinham sido cortadas de seu último pacote de austeridade de 45,5 bilhões de euros. O governo italiano também informou que irá procurar obter o voto de confiança do Parlamento sobre seu pacote de austeridade para agilizar sua adoção.
Foi anunciado o plano de impor um imposto sobre a riqueza, aumentar os impostos sobre os produtos e introduzir novas reformas previdenciárias em meio a uma greve geral de um dia realizada como protesto contra o pacote de austeridade.
Partes do sistema público de transporte urbano na Itália, que levam a atrações como o Coliseu, em Roma, estavam inoperantes por conta da greve, enquanto milhares de trabalhadores ocuparam as ruas em todo o país. "Este é um plano que o país não merece", disse Susanna Camusso, chefe do maior sindicato do país CGIL, ao liderar a principal marcha em Roma.
Na Espanha, cuja taxa de desemprego é a maior dos países industrializados, perto dos 21%, sindicatos tomaram as ruas em uma demonstração de força contra uma emenda constitucional que prevê orçamentos equilibrados.
"A reforma da Constituição é o passo anterior para um maior número de cortes", afirmou à AFP Ricardo, um professor de 34 anos, enquanto ao seu redor os manifestantes agitavam pequenas bandeiras com as siglas das duas grandes centrais sindicais.
"Quando uma pessoa está disposta a incluir na Constituição a redução dos gastos públicos, isso já indica algo, vamos em direção a um modelo baseado quase que exclusivamente no setor privado", acrescentou.
Os protestos ocorrem um dia depois de os mercados de ações europeus terem caído fortemente, com baixas superiores a 3% na Espanha e na Itália, em meio ao aumento dos temores de uma recessão. Houve uma tímida alta na manhã desta terça-feira, mas a maior parte dos mercados encerrou o dia em queda.
A Itália anunciou o pacote de austeridade no mês passado, mas sua credibilidade entre os investidores foi minada por muitas mudanças feitas pelo governo nas semanas seguintes.
Depois que Berlusconi reuniu-se com líderes da coalizão, foi anunciado um pacote que incluirá um imposto à riqueza, o aumento do Imposto sobre o Valor Agregado (IVA) e a realização de reformas previdenciárias. O governo também informou que adotará a regra que prevê equilíbrio orçamentário na quinta-feira, como parte dos esforços do país para ganhar a confiança dos mercados.
Um imposto de 3% sobre as rendas superiores a 500.000 euros foi colocado de volta ao pacote nesta terça-feira, depois que um imposto de 5% tinha sido cortado na semana passada, sob pressão de Berlusconi. O Imposto sobre Valor Agregado (IVA) subirá um ponto percentual, para 21%, de acordo com um comunicado divulgado depois da reunião da coalizão.
A idade de aposentadoria para as mulheres no setor privado, atualmente em 60 anos, deve subir para 65 anos no início de 2014, em vez de 2016, como planejado anteriormente. As medidas permitirão que a Itália leve seu orçamento de volta ao equilíbrio em 2013 em vez de 2014.
O Banco Central Europeu (BCE) teve de intervir no mês passado e comprar dezenas de bilhões de títulos da Zona Euro depois que investidores venderam papéis da dívida de Itália e Espanha e levaram os juros a níveis insustentáveis.
Além dos protestos em Roma, mais de 10.000 pessoas participavam de uma manifestação contra os planos de austeridade em Florença, e marchas também ocorriam em Gênova e outras cidades da Itália. "Estamos à beira do precipício, nós precisamos de um governo responsável", disse Camusso enquanto milhares de trabalhadores marchavam em Roma.
Em um discurso nesta terça-feira, o chefe do Banco Mundial manteve as pressões sobre os governos da Zona Euro para que coloquem suas economias no caminho certo, afirmando que as compras de títulos só dariam algum respiro. "Estamos chegando em um momento crucial para os líderes europeus", disse Robert Zoellick.