"As dioceses de todo o mundo recolheram muitas provas, e costumam enviá-las a Roma. Dizem que têm dados de 4 mil casos. Mas o que fizeram com eles? Têm que ser enviados a agentes responsáveis pela ordem pública", assinalou Peter Isely, um dos fundadores da associação americana de vítimas de pedofilia Snap.
O grupo apresentou ao TPI, no último dia 13, uma demanda contra o Papa e outras três autoridades da Igreja Católica, por crimes contra a Humanidade. Elas são acusadas de terem "tolerado e encoberto sistematicamente", por décadas, crimes sexuais contra crianças de todo o mundo. Os advogados das vítimas, presentes à entrevista coletiva, rechaçaram o argumento de que o TPI não pode julgar a autoridade máxima da Igreja.
Segundo especialistas, trata-se de uma movimentação simbólica, já que não se trata de uma acusação, e sim de um relatório ou "comunicação". O promotor do TPI só pode iniciar uma investigação a pedido de um Estado que tenha ratificado o Estatuto de Roma (com o qual foi fundado o TPI, o que não é o caso do Vaticano), do Conselho de Segurança da ONU ou por iniciativa própria. O tribunal não investiga pessoas, e sim, crimes. "Pode ser que a nossa denúncia não dê em nada, mas não será porque o TPI não é competente", disse o advogado da CCR Pam Spees.
Uma série de revelações de abusos sexuais de menores envolvendo religiosos em vários países, entre eles Grã-Bretanha e Irlanda, gerou, no fim de 2009, um escândalo mundial. O Papa reconheceu a responsabilidade da Igreja e expressou "vergonha".
Após pedir perdão em nome da Igreja, o pontífice prometeu aplicar a tolerância zero contra os pedófilos, e pediu aos bispos do mundo inteiro que colaborem plenamente com as instâncias penais. A Snap, no entanto, não acredita nesse desejo de transparência e justiça.