Jornal Estado de Minas

Papa chega a Berlim e diz compreender os que fogem da Igreja

Segundo as pesquisas, a maioria dos alemães é indiferente à chegada do Papa

AFP
O Papa Bento XVI iniciou nesta quinta-feira uma visita de quatro dias à Alemanha afirmando compreender as pessoas que abandonam a Igreja Católica em função dos escândalos de abusos sexuais e pedindo aos alemães e aos europeus que retornem às origens de sua cultura.
"Posso compreender que diante de tais informações, as pessoas, principalmente as que são próximas das vítimas, digam 'esta não é mais a minha Igreja'", declarou aos jornalistas a bordo do avião que o levou a Berlim.

Também fez referência às manifestações de repúdio que o aguardam na Alemanha, explicando não ter nada contra protestos que são organizados de maneira civilizada. "É normal em uma sociedade livre marcada por uma forte secularização", afirmou o pontífice, antes de acrescentar: "Respeito os que se manifestam".

O Papa foi recebido pela chanceler Angela Merkel em Berlim, onde realiza uma visita oficial e pastoral que inclui atividades políticas e ecumênicas, mas também deve enfrentar algumas dificuldades. A viagem inclui três etapas - Berlim, Erfurt e Freiburg -, com uma agenda pesada para o pontífice de 84 anos. Ele pronunciará 19 discursos, incluindo o que fez nesta quinta-feira no Parlamento alemão, o célebre Bundestag.

Em seu primeiro discurso no país, no castelo Bellevue de Berlim, onde foi recebido pelo presidente da República, Christian Wulff, com honras militares, o Papa afirmou que faz sua primeira visita ao país natal para falar de Deus. "Não vim aqui fundamentalmente por determinados interesses políticos ou econômicos, como fazem outros homens de Estado, e sim para ver as pessoas e falar de Deus", declarou.

O primeiro Papa alemão em 500 anos também fez referência ao passado nazista do país. "Um olhar claro sobre as páginas escuras do passado nos permite aprender e receber impulsos para o presente", declarou. O presidente alemão pediu à Igreja Católica que viva na realidade e de acordo com sua época.

"A Igreja e o Estado estão separados em nosso país, com boas razões. Mas a Igreja não é uma sociedade paralela. Vive nesta sociedade, neste mundo e nesta época. É por isso que ela também deve enfrentar novas questões", disse o católico Wulff.

Na quarta-feira, Wulff afirmou que a Igreja deveria ser mais compreensiva com os divorciados. O presidente alemão se divorciou em 2007 e voltou a casar no ano seguinte. O Vaticano não reconhece o divórcio. Por outro lado, em seu discurso aos deputados alemães, o Papa alertou contra as leis contrárias à liberdade e a dignidade humanas, pedindo aos europeus que voltem às origens de sua cultura.

"Em um momento histórico, no qual o homem adquiriu um poder até agora inimaginável (...) tem a capacidade de destruir o mundo. Pode-se manipular a si mesmo. Pode, por assim dizer, fazer seres humanos e privar de sua humanidade outros seres humanos", afirmou, fazendo alusão aparentemente à seleção genética e ao aborto terapêutico.

Segundo o Papa, os Direitos Humanos, a igualdade de todos diante da lei, a inviolabilidade da dignidade humana encontram sua origem na fé em um "Deus criador".
Fontes vaticanas não excluem que o Papa acabe recebendo algumas vítimas dos abusos sexuais cometidos por padres, como já o fez em outras viagens, um gesto que sempre é apreciado.

A associação de vítimas de padres católicos pedófilos, a SNAP, fundada nos Estados Unidos, avivou o tema na semana passada, depois de apresentar uma denúncia contra o Papa e outros três hierarcas da Igreja ante o Tribunal Penal Internacional por "crimes contra a humanidade", uma ação basicamente simbólica, mas que poderá ofuscar a visita papal.

Além dos escândalos de pedofilia, alguns setores católicos alemães pedem reformas mais profundas dentro da Igreja, enquanto outros rejeitam a visita do pontífice alemão por considerá-lo muito retrógrado.