Coincidência ou não, a intensidade dos protestos caiu. Se nas últimas greves gerais, realizadas em outubro e novembro, a praça central de Atenas foi transformada em campo de batalha entre a polícia e os manifestantes, hoje houve poucos enfrentamentos. Houve disparos de bombas de gás lacrimogêneo contra manifestantes que atiravam pedras nas tropas de choque ou queimavam lixeiras no caminho a passeata. O Ministério do Interior mobilizou 7 mil agentes para controlar a multidão, mas o número de pessoas também caiu - os números variaram entre 7 mil, segundo as autoridades, e 27 mil, segundo os organizadores.
Enquanto os manifestantes voltavam às ruas, o gabinete de Papademos buscava acordos sobre a aplicação do plano de austeridade. Fortalecido pelo voto de confiança de 255 dos 300 deputados, aprovado na quarta-feira, Papademos tem como primeiro desafio chegar a um acordo com o sistema financeiro sobre as modalidades do corte da dívida, que deve recuar de 160% a 120% do Produto Interno Bruto (PIB) até 2020. As discussões vêm sendo comandadas pelo ministro da Economia, Evangelos Venizelos, e pelo presidente da Agência de Gestão da Dívida Pública (PDMA), Petros Christodoulou. Os bancos são representados pelo Instituto Internacional de Finanças (IIF), dirigido por Charles Dallara.
A proposta inicial da Grécia prevê a troca de um total de € 200 bilhões em títulos soberanos gregos, com desconto de 50%. Segundo o jornal Kathimerini, para cada obrigação atual com valor de € 100 seria emitido um novo título, com valor de € 40, € 35 ou € 30. A diferença até os 50% seria saldada em dinheiro no vencimento da obrigação antiga. Já o IIF proporia, entre outras alternativas, o desconto de 50% sobre um total de € 141 bilhões em dívidas, por meio da troca dos papeis antigos por novos com validade de 22 anos e juros de 7%. No total, o corte oferecido pelos credores chegaria a € 94,5 bilhões.
Além de buscar o acordo com os bancos o, o governo de Papademos precisa encontrar novas fontes de receita para cumprir as metas de déficits acertadas com a UE. O desafio ficou ainda maior depois que a previsão de receitas com as privatizações caiu hoje de € 5 bilhões para € 1,3 bilhão em 2011. Do cumprimento de metas de redução do déficit depende a liberação de € 8 bilhões em empréstimos de Bruxelas e do FMI, que precisam ser transferidos para Atenas até 15 de dezembro. Do contrário, o país pode entrar em moratória.