Militantes do Greenpeace invadiram nesta segunda-feira uma usina nuclear a menos de 100 km de Paris e afirmaram ter entrado em "outras instalações nucleares" que fazem parte das 19 centrais em funcionamento na França, onde 75% da eletricidade consumida é de origem atômica.
O Greenpeace explicou ter escolhido a usina nuclear de Nogen sur Seine, 95 km a sudeste de Paris, construída em 1987 e que conta com dois reatores, "pois é a mais próxima de Paris", informou a organização ecologista.
"A finalidade foi demonstrar a sensibilidade das instalações nucleares francesas e até que ponto é fácil chegar ao coração de uma usina", destacou Sophia Majnoni, encarregada de questões nucleares do Greenpeace.
A Gendarmeria francesa confirmou a invasão da usina por militantes da organização ecologista que, horas depois, anunciou em um comunicado que outros militantes entraram em outras instalações.
No entanto, a empresa francesa encarregada das usinas nucleares, Electricité de France (EDF), informou que a única central onde havia "marcas de invasão" era a de Nogen.
"Não foram registradas invasões em outras centrais nucleares", destacou a EDF em um comunicado, destacando que o incidente "estava encerrado" e que nove pessoas foram detidas por guardas nesta instalação.
A França admitiu haver "lapsos" na segurança de suas instalações nucleares e o presidente francês, Nicolas Sarkozy, denunciou como "irresponsável" a invasão da usina por ativistas do Greenpeace.
"É claro que isto revela lapsos em nosso sistema (de segurança)", afirmou a jornalistas o ministro do Interior, Claude Gueant. "Todas as lições precisam ser aprendidas para que o sistema possa ser ainda mais seguro do que é hoje", acrescentou.
Em entrevista coletiva à imprensa concedida ao lado da chanceler alemã, Angela Merkel, Sarkozy criticou os ativistas por colocarem a si próprios e outros em risco.
"No que diz respeito à segurança nuclear, nós vamos publicar todas as auditorias (de segurança)", afirmou, acrescentando: "Devemos transparência ao povo francês".
Em um primeiro comunicado, o Greenpeace anunciou que por volta das 06h00 locais (03h00 de Brasília) militantes da organização haviam entrado na usina de Nogen sur Seine "para difundir a mensagem de que a energia nuclear segura não existe" na França, país que depende majoritariamente desta fonte.
"(...) No momento em que entravam na usina de Nogen, outros militantes do Greenpeace invadiram outras instalações nucleares", afirmou a organização em um segundo comunicado, sem revelar o nome das mesmas.
A Gendarmeria francesa confirmou que oito militantes haviam entrado na usina de Nogen e que alguns já tinham sido detidos.
A mesma fonte informou que às 08h20 locais (05h20 de Brasília) outros militantes ecologistas tentaram entrar nas usinas nucleares de Cadarache (sudeste) e de Blaye (sudoeste), pois em suas imediações foram encontradas escadas e faixas.
O Ministério francês do Interior anunciou ter feito uma revisão "minuciosa" das usinas nucleares para verificar se havia outros militantes em seu interior e assegurou que as invasões "não puseram em risco a integridade das instalações nucleares".
Em Nogent sur Seine, "parte dos militantes conseguiu subir na cúpula de um dos reatores e desfraldar uma faixa (na qual se podia ler): "a energia nuclear segura não existe'", afirmou Axel Renaudink, encarregado de comunicação do Greenpeace. Mais de dez milhões de pessoas vivem em um raio de 100 km ao redor da usina de Nogen sur Seine, informou o Greenpace.
Para a organização ambientalista, a invasão prova que ninguém está a salvo de um ataque ou de um acidente e que a França, pelo número de usinas que tem, está particularmente exposta.
"É preciso rever a segurança das usinas, pois (a política atual) não leva em conta nem o risco terrorista, nem o risco da queda de um avião, de uma explosão química ou de um ato de delinquência", afirmou Majnoni.
A número um do partido Europa Ecologia-Verdes, Cecile Duflot, agradeceu aos militantes do Greenpeace por terem realizado uma "auditoria gratuita" sobre a segurança atômica na França, ao demonstrar "as imperfeições das nossas usinas nucleares", destacou.