A internet é proibida, não existe imprensa livre e escutar uma rádio estrangeira pode levar à prisão: na era digital, o regime norte-coreano controla os meios de comunicação com mãos de ferro para impor sua propaganda.
Após o anúncio da morte de seu dirigente na segunda-feira 19 de dezembro, a Coreia do Norte intensificou o culto da personalidade dedicada à Kim Jong-Il e seu filho e sucessor, Kim Jong-Un. A agência de notícias oficial do regime vendeu o altruísmo do novo número um, que enviou bebida quente aos cidadãos que vieram homenagear seu pai morto, apesar do frio de inverno. "Seu coração é tão bom. O afeto demonstrado por Kim Jong-un para com seu povo entristecido vai entrar para a história", ressaltou a agência KCNA. O jovem Kim, terceiro representante da dinastia comunista fundada por seu avô Kim Il-Sung, ainda não igualou oficialmente as performances de seu pai - que, segundo os meios de comunicação norte-coreanos, fez uma partida de golfe miraculosa, acertando 11 tacadas diretamente no buraco. Desde o fim do reinado de 17 anos de Kim Jong-Il, marcado pela repressão feroz contra toda oposição, a televisão estatal mostra multidões de civis e militares emocionados diante do caixão do ex-líder ou de seus retratos gigantes expostos em praças públicas. Os norte-coreanos, desde muito novos, aprendem a cantar louvores a Kim Jong-Il, cuja lenda de seu nascimento no Monte Paektu é sagrada para os coreanos, embora historiadores atestem que ele nasceu na Sibéria, para onde Kim Il-Sung fugiu das tropas dos colonizadores japoneses. A morte de Kim Jong-Il tem sido ridicularizada por blogueiros de todo o mundo, mas poucos norte-coreanos viram as piadas, já que as redes sociais, usadas com sucesso durante as revoltas árabes, são quase inexistentes no país. Eles dispõem de um sistema de intranet chamado Kwangmyong, mas que é fortemente controlado por autoridades e permanece focado no noticiário nacional. "A Coréia do Norte funciona como na década de 1950 e 1960", explicou Andrei Lankov, professor da Universidade Kookmin, em Seul. "Não podem ter um número grande de computadores no local, não estão conectados à Internet, que é proibida. Os rádios fornecidos pelas autoridades têm uma freqüência fixa, que permite escutar apenas programas oficiais". Além da informação, os movimentos dos homens são estritamente limitados, reduzindo as possibilidades de comércio: a maioria dos norte-coreanos não podem sair de seu país e apenas um punhado de estrangeiros é autorizado a permanecer no país, mas apenas em na capital, Pyongyang. No entanto, algumas estações de rádio são captados de maneira ilegal e alguns produtos, como fitas cassetes, chegam do sul. Mas Pyongyang provou mais uma vez sua capacidade de reter informações, mantendo o sigilo da morte de Kim Jong-Il por dois dias antes de ser anunciada por um apresentador em lágrimas na televisão estatal. É difícil avaliar o quão é sincera a tristeza demonstrada pelas multidões nas imagens oficiais, o regime impulsiona as pessoas para visitarem os lugares de homenagem de serem demonstrativos. Contudo, os norte-coreanos que fugiram para o Sul argumentam que anos de doutrinação podem explicar em parte a tristeza por Kim Jong-Il, no poder durante a terrível fome dos anos 1990 que matou centenas de milhares. "A lavagem cerebral no Norte é tão eficaz que comecei a chorar quando soube da morte de Kim Jong-Il. Isso porque eu deixei o país há anos e odeio esse personagem", admite Lee Hae Young, diretor da Associação dos Desertores Norte-coreanos, com sede em Seul.