Os principais jornais argentinos dedicaram a capa e um extenso espaço de cobertura para o estado de saúde da presidente. Os diários Clarín e La Nación, adversários do governo e envolvidos em uma longa queda de braço com Cristina, reservaram grande parte de suas edições ao caso, coberto ao longo do dia em seus websites. No do Clarín, abaixo de várias reportagens sobre o tema, aparecia a notícia da publicação, no Diário Oficial argentino, da promulgação da lei que declara de interesse público a fabricação e distribuição de papel-jornal. Na prática, a medida torna estatal a empresa Papel Prensa, e o Clarín e o La Nación deixam de ser seus acionistas majoritários.
A primeira aparição pública após o anúncio do câncer foi em um ato para a apresentação de um programa para sanar dívidas das províncias (estados). A presidente procurou demonstrar força e pediu a empresários e trabalhadores prudência e equilíbrio nas reivindicações, em um cenário econômico no qual os sindicatos se queixam de salários e impostos, enquanto as empresas reclamam da perda de competitividade. Cristina aproveitou para recomendar ao vice, Amado Boudou, que “tome cuidado com o que vai fazer” durante os 20 dias em que assumirá a presidência.
Sem oposição Na avaliação do analista político Rosendo Fraga, diretor do Centro de Estudos Nueva Mayoría, de Buenos Aires, o embate entre o governo e o dirigente da poderosa central sindical CGT, Hugo Moyano, assim como os atritos com o governador da Província de Buenos Aires, Daniel Scioli, eram até terça-feira os temas políticos mais relevantes para 2012. “Agora, passou a ser a saúde presidencial”, afirmou. Fraga analisa que quanto maior a personalização da liderança política, como no caso da Argentina, mais importante é o tema da saúde. “Ainda mais que, nesse caso, se trata da maior acumulação de poder político-institucional desde 1983”, comenta o analista.
A notícia pegou todo o país de surpresa. Para o professor argentino Luís Fernando Ayerbe, coordenador do Instituto de Estudos Econômicos e Internacionais da Unesp, gerou um clima de solidariedade na Argentina. “Sempre que algo assim acontece, as diferenças com a oposição ficam um pouco adormecidas”, afirmou. “Houve um grande debate político nas última semanas, mas essa notícia (da doença) cria um intervalo.”
Tanto Ayerbe como Fraga veem como positivo o fato de o governo tratar com transparência a doença da presidente e divulgar o diagnóstico prontamente. O jornal La Nación trouxe uma reportagem na qual afirma que Cristina levou um grande susto ao ouvir a palavra câncer e teve um “momento inicial de consternação”, mas logo se recompôs ao ser tranquilizada pelos médicos. Em seguida, o secretário de Comunicação da Casa Rosada, Alfredo Scoccimarro, fez um comunicado breve e claro sobre o caso, a exemplo do que fizeram o ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente paraguaio, Fernando Lugo. Atitude contrária teve Chávez, que até agora mantém sigilo sobre seu estado de saúde, alimentando especulações.