O tribunal de justiça de Grosseto ordenou nesta terça-feira a prisão domiciliar de Francesco Schettino, comandante do navio de cruzeiro "Costa Concordia", que naufragou na noite de sexta-feira diante da ilha italiana de Giglio, causando a morte de pelo menos onze pessoas, informaram fontes da defesa. Ele foi indiciado por homicídio culposo múltiplo, responsabilidade pelo naufrágio e abandono do navio.
No entanto, ao ser ouvido pelos magistrados, o capitão Francesco Schettino voltou a negar o abandono do navio, apesar dos testemunhos e das gravações que o acusam de ter se desviado da rota e de chegar à terra antes da maioria dos passageiros, além de violar as leis de navegação.
O capitão, detido por ordem do Ministério Público de Grosseto (centro da Itália) ante a possibilidade de fuga, é acusado de homicídio culposo múltiplo, naufrágio e abandono da nave.
Schettino foi interrogado durante três horas pela juíza para a instrução preliminar, que determinou a sua detenção.
Segundo a imprensa local, Schettino assegurou que estava no timão quando o navio se chocou contra uma rocha e que "não abandonou o navio, e sim caiu no mar devido a um solavanco da embarcação".
Os depoimentos contra ele, um italiano de 52 anos, multiplicaram-se depois do naufrágio, que causou, até agora, onze mortos e 28 desaparecidos.
Nascido na cidade de Sorrento, terra de marinheiros, o comandante ficou desacreditado ao ser acusado de ter se negado a voltar ao navio, apesar das ordens de um oficial da Capitania dos Portos que o obrigava a regressar para coordenar as operações de retirada dos passageiros, como cabia a sua patente de capitão.
Schettino, que pode ser condenado a 12 anos na prisão, foi descrito como uma pessoa "exuberante e de credibilidade" por um de seus superiores, o comandante Mario Palombo, atualmente na reserva.
"Quis fazer uma brincadeira, uma palhaçada, uma loucura e o condenaria não apenas uma, mas dez vezes", disse à AFP outro comandante italiano que preferiu não ter o nome divulgado.
Schettino "declarou aos juízes que não abandonou o Concordia e que salvou milhares de vidas", contou seu advogado de defesa, Bruno Leporatti.
O capitão insiste que fez tudo o que estava a seu alcance.
"Defende a decisão de ter mudado a rota do navio de cruzeiro depois do choque contra as rochas, o que o permitiu salvar centenas ou milhares de vidas, ao encalhar num banco de areia", disse o advogado.
Leporatti diz também que Schettino "está tranquilo por ter mantido naquele momento a lucidez necessária para realizar uma difícil manobra de emergência".
Vários depoimentos asseguram que estava de brincadeira com vários amigos, tomando champanhe, acompanhado de turistas.
Schettino, comandante de ferrys, começou a trabalhar em 2002 na famosa companhia de cruzeiros - uma notável ascensão, principalmente se for levado em conta o enorme incremento do turismo nesse setor.
"Era como passar de motorista de caminhão a piloto de um Ferrari", comentou um de seus colegas, ao referir-se ao "Costa Concordia", o gigante do mar, uma nave sofisticada, de alta tecnologia, de dez andares, capaz de navegar a 20 nós (37 km/hora).
Mas sua carreira parece acabada: as gravações das conversas com a Guarda Costeira divulgadas pela imprensa nesta terça-feira são desconcertantes.
Revelam que o capitão não apenas se negou a regressar ao navio, mas que evitou retomar o comando, ao ser informado de que havia mortos.
"Volte imediatamente a bordo, suba pela ponte de segurança e coordene a evacuação. Deve nos dizer quantas pessoas ainda estão lá: crianças, mulheres, passageiros, o número exato", ordenaram a ele.
O presidente da companhia Costa Crociere, Pier Luigi Foschi, disse nesta segunda-feira que a empresa tem a obrigação de prestar assistência jurídica ao comandante, destacando que existem "testemunhas confiáveis" de que permaneceu no navio.
Sua família o defende mais do que nunca: "querem acabar com uma brilhante carreira, meu irmão provará que não é o responsável", disse sua irmã Giulia.