Jornal Estado de Minas

Fracassa missão de 'última oportunidade' da AIEA no Irã

AFP
As negociações entre o Irã e a AIEA sobre o controvertido programa nuclear iraniano fracassaram após uma missão de "última oportunidade" da agência da ONU em Teerã, confirmou nesta quarta-feira o chefe de seus inspetores.
"Não pudemos ter acesso (à suposta instalação nuclear na base militar de Parchin), não pudemos fixar os próximos passos (nas negociações). Informaremos agora o diretor-geral (da AIEA) e mais tarde o conselho de governadores", declarou à imprensa o belga Herman Nackaerts no aeroporto de Viena.

Horas antes, em um comunicado, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) havia lamentado a ausência de um acordo para fixar as negociações sobre o programa nuclear iraniano, que, segundo os ocidentais, tem objetivos militares, o que Teerã nega.

A AIEA não indicou o que ocorrerá depois deste fracasso, que será alvo de debate em seu Conselho de governadores a partir de 5 de março.

Já o guia da República Islâmica, Ali Khamenei, reiterou nesta quarta-feira que o Irã "não busca se dotar de uma bomba atômica".

"Queremos romper a supremacia baseada nas armas atômicas" que as grandes potências possuem, e "graças a Deus o povo iraniano conseguirá", acrescentou o Guia em um discurso diante de cientistas nucleares do país, citado em um comunicado governamental.

Tudo isso ocorre ao término de uma visita de dois dias a Teerã, nos dias 20 e 21 de fevereiro, de uma missão de alto nível da AIEA, considerada uma "última oportunidade", após uma primeira realizada de 29 a 31 de janeiro.

Esta missão, como a primeira, era dirigida pelo diretor-adjunto da agência da ONU e pelo chefe dos inspetores.

No comunicado da AIEA, seu diretor-geral, o japonês Yukiya Amano, expressou sua "decepção" diante da atitude iraniana: "É decepcionante que o Irã não tenha aceitado nosso pedido de visitar Parchin durante a primeira ou segunda missão", declarou.

"Nós nos envolvemos com espírito construtivo, mas não se chegou a nenhum acordo", lamentou.

Por sua vez, o embaixador do Irã na AIEA, Ali Asghar Soltanieh, presente nas discussões na capital iraniana, afirmou na terça-feira que "estas negociações vão prosseguir no futuro".

Os ocidentais, através da secretária de Estado americana, Hillary Clinton, e do ministro francês das Relações Exteriores, Alain Juppé, demonstraram um otimismo prudente, sobretudo após a resposta positiva do Irã à proposta do Grupo 5%2b1 (Estados Unidos, Grã-Bretanha, França, Rússia, China e Alemanha) de retomar suas discussões, interrompidas desde janeiro de 2011.

No centro do interminável conflito com a República Islâmica se encontra uma "possível dimensão militar" do programa nuclear iraniano, refletida pela AIEA em seu último informe de novembro de 2011.

A publicação deste informe conduziu a sanções ocidentais contra a indústria petroleira iraniana e o Banco Central do Irã.

O início da produção de urânio enriquecido na usina de Fordo também suscitou a "inquietação" de Rússia e China, que convocaram o Irã a "cooperar com a AIEA", embora fossem hostis a sanções do Conselho de Segurança da ONU.

Apesar das críticas, o Irã seguiu em frente com seu programa nuclear, em um âmbito de crescente tensão, já que Israel, única potência nuclear - não declarada - da região ameaça com um ataque aéreo contra as instalações nucleares iranianas.

Neste contexto, a chancelaria russa assegurou nesta quarta-feira que a base militar americana no Quirguistão, ex-república soviética da Ásia central, poderia servir em caso de ataque contra o Irã.

"Não se pode excluir que (a base) seja utilizada em caso de conflito com o Irã", disse à televisão o porta-voz do ministério, Alexander Lukashevich, que não descarta uma operação americana.