Ziuganov, o comunista que exalta Stalin e reza diante de ícones ortodoxos
O candidato comunista à eleição presidencial de 4 de março, Guennadi Ziuganov, um ex-apparatchik soviético que exalta Stalin, mas que reza diante de um líder ortodoxo, é o chefe de um partido de oposição que nunca incomodou verdadeiramente o poder de Vladimir Putin.
Este homem alto, de 67 anos, voz grave e com um discurso impregnado de lugares comuns soviéticos, realiza a sua quarta campanha presidencial.
Em 1996, perdeu pela primeira vez para Boris Yeltsin, já debilitado, e desde então arrasta uma imagem de "eterno segundo", o que não o impede de voltar a se candidatar à Presidência e dirigir o Partido Comunista da Rússia, que preside desde sua fundação, em 1990.
Ele assegura que desta vez tem boas chances de ganhar do homem forte do país, alvo nestes três últimos meses de uma campanha de contestação sem precedentes desde que chegou ao poder, em 2000.
O PC melhorou seus resultados nas legislativas de dezembro graças aos votos de protesto contra o partido de Putin, Rússia Unida.
Como a oposição liberal, Ziuganov denunciou as fraudes eleitorais nas legislativas de dezembro.
Mas, assim como os partidários de Putin, o líder comunista ataca nas manifestações da oposição o risco da "peste laranja", em referência à "revolução laranja", um levante pacífico contra as fraudes eleitorais que em 2004 levou ao poder os pró-ocidentais na Ucrânia.
O chefe do PC critica os ministros "incompetentes", mas nunca diretamente Vladimir Putin.
"Ziuganov é um opositor em um sistema em que toda a oposição deve ser autorizada pelo poder. Ao mesmo tempo, para manter seus apoios, não deve se comportar como se fizesse parte do regime", explicou o cientista político Yuri Korguniuk, da fundação Indem.
Seu apego aos ideais da URSS - um Estado decididamente antirreligioso - não impediu este ex-professor de matemática e responsável pela ideologia do partido no período soviético de se inclinar diante de uma relíquia ortodoxa para "levar bem, com fé, a campanha eleitoral".
Em um folheto distribuído no âmbito de sua campanha, Ziuganov dedica vários capítulos a Lênin, "um gênio patriota cujas ideias são atuais na Rússia de hoje diante da ameaça da globalização à americana".
"Mais da metade dos russos considera Stalin uma grande personalidade. É vantajoso para Ziuganov (glorificá-lo), para não perder seu eleitorado", ressaltou o cientista político Vladimir Pribylovski, do centro de estudos políticos Panorama.
Mas para Yuri Korguniuk, da fundação Indem, "ao explorar a imagem de Stalin, o PC se meteu em uma armadilha", o que o impede de se converter em um partido social-democrata moderno.
"Esta questão será, sem dúvida, solucionada depois que Ziuganov sair", destacou Nikolai Petrov, do centro Carnegie de Moscou.
Segundo o analista, Ziuganov, dirigente inconteste do PC russo, é "um problema para o partido" que "tem uma rede muito desenvolvida, com fortes células regionais e que conta em suas filas com muitas figuras proeminentes, jovens, cientistas...".
"O partido é apoiado pelos que estão descontentes com a queda da ciência, da indústria ou do sistema de saúde pública, ou pelos jovens, que reagem diante da injustiça social, da corrupção e do cinismo do poder", concluiu o analista.
Em seu programa eleitoral, Guennadi Ziuganov promete restabelecer a educação e a saúde gratuitas, fazer a indústria renascer e nacionalizar os recursos e os setores econômicos chaves.