Brasília – Será preciso reconstruir muito mais que a infraestrutura devastada por uma das piores catástrofes naturais da história do Japão. Um ano após o terremoto de nove graus na escala Richter provocar um tsunami que engoliu cidades e levou a um desastre nuclear de consequências ainda desconhecidas, os japoneses unem forças para reerguer sua própria moral. O trauma da destruição causada pelas ondas de até 15 metros de altura se soma ao medo da radioatividade expelida pelo que restou dos reatores da usina atômica de Fukushima Daiichi. O fantasma daquele 11 de março de 2011 está estampado em dezenas de milhares dos 341.411 refugiados ainda impossibilitados de retornar para casa ante o risco de contaminação. "A vida por aqui mudou. A sociedade agora se move para a reconstrução", afirma por meio da internet Shuichi Endo (leia depoimento), de 46, morador de Sendai, capital da província de Miyagi – uma das mais afetadas pela catástrofe, situada a 130 quilômetros do epicentro.
Enquanto as máquinas começam a recuperar as cidades destruídas pelo abalo e pela força das águas, o temor da radioatividade continua a rondar a população. "Terei medo por mais cinco anos. Uma década depois, isso ainda será motivo de preocupação", atesta Shuichi Endo. Segundo ele, mulheres jovens e crianças estão incomodadas com casos de alergia. A proximidade da usina nuclear de Onagawa é motivo de conflito entre os moradores. Apesar do temor, a Prefeitura de Sendai explicou à reportagem, por e-mail, que a radioatividade na cidade excede levemente os limites encontrados na natureza e não representa risco à saúde.
A aparente tranquilidade inexiste 57 quilômetros a Sudoeste de Sendai. Uma nuvem de elementos radioativos escapou da usina nuclear de Fukushima Daiichi e forçou a retirada de todas as pessoas em um raio de até 20 quilômetros. Apesar dos índices de millisieverts relativamente baixos, as autoridades admitem que não existem níveis seguros de radioatividade. Pelo menos 1.331 refugiados, em sua maioria idosos, morreram de causas relacionadas ao estresse, como ataque cardíaco e pneumonia. Quase 2 milhões de pessoas deverão receber indenizações da Tokyo Electrical Power (Tepco, pela sigla em inglês), acusada de omissão ao prever o derretimento de três dos seis reatores da usina. Segundo a agência France-Presse, a Tepco repassa atualmente um subsídio por "sofrimentos mentais" de 120 mil ienes (cerca de R$ 2,8 mil) por mês. As compensações para 1,5 milhão de moradores fora da zona de exclusão que tiveram o comércio fechado e as lavouras contaminadas variam de 800 euros (R$ 1,8 mil) a 4 mil euros (R$ 9,3 mil).
Risco persistente
Consultado pelo Estado de Minas, o sismólogo norte-americano Robert Geller, especialista da Universidade de Tóquio, afirmou que a probabilidade de outro grande terremoto atingir qualquer local do Japão é "provavelmente mais alta que o normal". "Apesar de muitos preparativos estarem sendo feitos, sempre haverá alguns problemas. Não sabemos exatamente se são ideais, até que um grande tremor ocorra.” O especialista admite a dificuldade em minimizar os impactos de um tsunami. "Há duas questões aqui. A primeira é emitir um alerta de tsunami. A segunda é convencer pessoas comuns a atenderem o alerta e fugir para áreas mais altas. Cada uma delas é problemática. Temos apenas que fazer o melhor que pudermos", comentou Geller.