Paralelamente, a Polícia Federal passou a impedir a entrada de haitianos sem vistos. Como saíram do seu país sem a permissão e viajam sem o visto, os 273 haitianos passaram a viver na cidade de Iñapari. Para chegar à fronteira, o grupo enfrentou uma viagem que passou pela República Dominicana, pelo Panamá e pelo Equador. "Não sabia que a fronteira estava fechada, achei que a cruzaria no mesmo dia”, disse Saint Germain Guerbem, de 24 anos. "Gastei todo o meu dinheiro na viagem e, mesmo que quisesse, não teria condições de voltar ao Haiti". Guerbem, que queria chegar a São Paulo, tem dormido no coreto da praça central de Iñapari com dezenas de compatriotas, em sua grande maioria homens.
No grupo há também mulheres e crianças, que foram alojadas por moradores locais em suas casas ou em armazéns. Os restantes dormem espalhados pela cidade, sob qualquer cobertura que os proteja das frequentes chuvas, que inundaram Iñapari há duas semanas. "Peço que os brasileiros nos ajudem a entrar, porque não podemos aguentar mais", disse o pedreiro haitiano Facius Etienne, que foi escolhido líder do grupo. Segundo ele, as autoridades peruanas prometeram interceder ao governo brasileiro.
De acordo com Etienne, o grupo é formado por profissionais qualificados, como carpinteiros, eletricistas e torneiros mecânicos. Na expectativa de entrar, muitos estão fazendo aulas de português com uma professora voluntária de Assis Brasil.
A Embaixada do Brasil em Porto Príncipe informou que a procura de haitianos interessados em obter o visto é grande, mas exigências burocráticas barram uma maior concessão de permissões.
Para se candidatar à permissão, o interessado deve ter passaporte em dia, ser residente no Haiti (o que deve ser comprovado por atestado de residência) e apresentar atestado de bons antecedentes. Com todos os documentos em mãos, deve ainda pagar US$ 200 para a emissão do visto.