Na noite de quinta-feira, Chávez chorou ao falar sobre a doença. Durante uma missa reservada para a família, em Bariñas, ele pediu a Deus: "Não me leves ainda". "Eu digo a Deus. (…) Dai-me a vida, ainda que seja flamejante, vida dolorosa, não me importa", declarou, em meio a uma salva de palmas. Diante da imagem de Jesus Cristo crucificado e com um terço no pescoço, o presidente fez uma súplica desesperada. "Dai-me tua coroa, Cristo. Dai-me, que eu sangro, dai-me tua cruz, 100 cruzes, que eu as carrego, mas dai-me vida. Porque ainda me faltam coisas a fazer por este povo e por esta pátria. Não a tire de mim. Dai-me tua cruz. Dai-me teus espinhos, dai-me teu sangue, que estou disposto a levá-la, mas com vida, Cristo, meu senhor. Amém." Na primeira fila, a mãe de Chávez, Elena Frías, e o pai, Hugo de los Reyes Chávez, também não conseguiram conter as lágrimas.
SEGREDO
A reportagem entrou em contato com o Palácio de Miraflores na tarde de ontem. Um funcionário assegurou que não recebeu informações sobre a viagem presidencial ao Brasil. Por telefone, um oncologista do Hospital Sírio-Libanês também disse "não saber de absolutamente nada" sobre a suposta chegada do líder. O médico intensivista venezuelano José Rafael Marquina, que garante ter acesso a dados sobre o prontuário de Chávez, assegurou ao Estado de Minas que a radioterapia ministrada em Havana causou-lhe dores abdominais. "No dia 28, ele não obteve resposta do tratamento, voltou a Caracas e se submeteu novamente a dois dias de radioterapia, mas a aplicação queimou-lhe a região abdominal. O presidente tomou, então, a decisão de voltar a Havana e, ali, submeteu-se a um Pet Scan. Sem melhoras, escolheu ir ao Brasil", relatou.
Marquina aponta "erros gravíssimos" no tratamento realizado em Cuba. "Os médicos cubanos o operaram e diagnosticaram um abscesso pélvico. Só depois deram-se conta de que tratava-se de um câncer. Uma semana depois, ele foi novamente operado e teve o tumor ressecado. Inicialmente, pensaram que era um câncer de cólon e, depois, de bexiga. Chávez recebeu quimioterápicos errados e não se submeteu à radioterapia. Em quatro meses, apresentou um novo tumor, provavelmente resultado dos esteroides, que bloquearam a resposta natural à doença", explicou o médico.
A doença de Chávez estaria causando divisões no seio do governo. Segundo Ramón Medina, o vice-presidente, Elías Jaua, e o líder da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello, têm mantido reuniões noturnas em Caracas, nos últimos dias. "Há dois grandes grupos no governo: um deles é comandado pelo próprio Chávez, que deseja colocar no poder Adam Chávez, seu irmão e governador de Bariñas. Outro grupo é formado por Jaua e Cabello, que não estão de acordo com isso", revelou.