Brasília – Um tratamento médico repleto de falhas, em Cuba, teria levado o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, a aceitar o convite do governo brasileiro para a realização de exames no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. Fontes venezuelanas confirmaram ao Estado de Minas que um avião Falcon, levando a equipe de segurança avançada do Palácio de Miraflores, partiu de Caracas às 10h de ontem (11h30 em Brasília), com destino ao Brasil. "A informação foi repassada por um funcionário do governo daqui. Ele nos disse que Chávez se reunirá com a colega Dilma Rousseff e visitará o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva", contou à reportagem Ramón Medina Alfonso, jornalista do diário La Noticia, de Bariñas. O encontro, segundo o também jornalista Nelson Bocaranda, ocorreria neste fim de semana. O Itamaraty negou ter recebido qualquer notificação de Miraflores sobre a viagem. A Embaixada da Venezuela no Brasil, por sua vez, assegurou não ter perspectiva sobre uma visita.
Ramón Medina afirmou que Rosa Virginia e María Gabriela, filhas do presidente, estariam pressionando o pai a escutar a opinião de outros especialistas sobre o tumor na região pélvica. O avião presidencial deixou Bariñas às 19h45 de ontem (hora de Brasília), em direção à cidade de Maiquetía, perto de Caracas. Chávez teria embarcado apenas acompanhado de seu staff. Bocaranda publicou em sua página, no microblog Twitter, que a reunião com Lula seria "fachada" para a realização de um Pet Scan – um exame que detecta, com grande precisão, a existência de metástases – e para a consulta com médicos que atendem ao ex-presidente brasileiro.
Na noite de quinta-feira, Chávez chorou ao falar sobre a doença. Durante uma missa reservada para a família, em Bariñas, ele pediu a Deus: "Não me leves ainda". "Eu digo a Deus. (…) Dai-me a vida, ainda que seja flamejante, vida dolorosa, não me importa", declarou, em meio a uma salva de palmas. Diante da imagem de Jesus Cristo crucificado e com um terço no pescoço, o presidente fez uma súplica desesperada. "Dai-me tua coroa, Cristo. Dai-me, que eu sangro, dai-me tua cruz, 100 cruzes, que eu as carrego, mas dai-me vida. Porque ainda me faltam coisas a fazer por este povo e por esta pátria. Não a tire de mim. Dai-me tua cruz. Dai-me teus espinhos, dai-me teu sangue, que estou disposto a levá-la, mas com vida, Cristo, meu senhor. Amém." Na primeira fila, a mãe de Chávez, Elena Frías, e o pai, Hugo de los Reyes Chávez, também não conseguiram conter as lágrimas.
SEGREDO
A reportagem entrou em contato com o Palácio de Miraflores na tarde de ontem. Um funcionário assegurou que não recebeu informações sobre a viagem presidencial ao Brasil. Por telefone, um oncologista do Hospital Sírio-Libanês também disse "não saber de absolutamente nada" sobre a suposta chegada do líder. O médico intensivista venezuelano José Rafael Marquina, que garante ter acesso a dados sobre o prontuário de Chávez, assegurou ao Estado de Minas que a radioterapia ministrada em Havana causou-lhe dores abdominais. "No dia 28, ele não obteve resposta do tratamento, voltou a Caracas e se submeteu novamente a dois dias de radioterapia, mas a aplicação queimou-lhe a região abdominal. O presidente tomou, então, a decisão de voltar a Havana e, ali, submeteu-se a um Pet Scan. Sem melhoras, escolheu ir ao Brasil", relatou.
Marquina aponta "erros gravíssimos" no tratamento realizado em Cuba. "Os médicos cubanos o operaram e diagnosticaram um abscesso pélvico. Só depois deram-se conta de que tratava-se de um câncer. Uma semana depois, ele foi novamente operado e teve o tumor ressecado. Inicialmente, pensaram que era um câncer de cólon e, depois, de bexiga. Chávez recebeu quimioterápicos errados e não se submeteu à radioterapia. Em quatro meses, apresentou um novo tumor, provavelmente resultado dos esteroides, que bloquearam a resposta natural à doença", explicou o médico.
A doença de Chávez estaria causando divisões no seio do governo. Segundo Ramón Medina, o vice-presidente, Elías Jaua, e o líder da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello, têm mantido reuniões noturnas em Caracas, nos últimos dias. "Há dois grandes grupos no governo: um deles é comandado pelo próprio Chávez, que deseja colocar no poder Adam Chávez, seu irmão e governador de Bariñas. Outro grupo é formado por Jaua e Cabello, que não estão de acordo com isso", revelou.
Ramón Medina afirmou que Rosa Virginia e María Gabriela, filhas do presidente, estariam pressionando o pai a escutar a opinião de outros especialistas sobre o tumor na região pélvica. O avião presidencial deixou Bariñas às 19h45 de ontem (hora de Brasília), em direção à cidade de Maiquetía, perto de Caracas. Chávez teria embarcado apenas acompanhado de seu staff. Bocaranda publicou em sua página, no microblog Twitter, que a reunião com Lula seria "fachada" para a realização de um Pet Scan – um exame que detecta, com grande precisão, a existência de metástases – e para a consulta com médicos que atendem ao ex-presidente brasileiro.
Na noite de quinta-feira, Chávez chorou ao falar sobre a doença. Durante uma missa reservada para a família, em Bariñas, ele pediu a Deus: "Não me leves ainda". "Eu digo a Deus. (…) Dai-me a vida, ainda que seja flamejante, vida dolorosa, não me importa", declarou, em meio a uma salva de palmas. Diante da imagem de Jesus Cristo crucificado e com um terço no pescoço, o presidente fez uma súplica desesperada. "Dai-me tua coroa, Cristo. Dai-me, que eu sangro, dai-me tua cruz, 100 cruzes, que eu as carrego, mas dai-me vida. Porque ainda me faltam coisas a fazer por este povo e por esta pátria. Não a tire de mim. Dai-me tua cruz. Dai-me teus espinhos, dai-me teu sangue, que estou disposto a levá-la, mas com vida, Cristo, meu senhor. Amém." Na primeira fila, a mãe de Chávez, Elena Frías, e o pai, Hugo de los Reyes Chávez, também não conseguiram conter as lágrimas.
SEGREDO
A reportagem entrou em contato com o Palácio de Miraflores na tarde de ontem. Um funcionário assegurou que não recebeu informações sobre a viagem presidencial ao Brasil. Por telefone, um oncologista do Hospital Sírio-Libanês também disse "não saber de absolutamente nada" sobre a suposta chegada do líder. O médico intensivista venezuelano José Rafael Marquina, que garante ter acesso a dados sobre o prontuário de Chávez, assegurou ao Estado de Minas que a radioterapia ministrada em Havana causou-lhe dores abdominais. "No dia 28, ele não obteve resposta do tratamento, voltou a Caracas e se submeteu novamente a dois dias de radioterapia, mas a aplicação queimou-lhe a região abdominal. O presidente tomou, então, a decisão de voltar a Havana e, ali, submeteu-se a um Pet Scan. Sem melhoras, escolheu ir ao Brasil", relatou.
Marquina aponta "erros gravíssimos" no tratamento realizado em Cuba. "Os médicos cubanos o operaram e diagnosticaram um abscesso pélvico. Só depois deram-se conta de que tratava-se de um câncer. Uma semana depois, ele foi novamente operado e teve o tumor ressecado. Inicialmente, pensaram que era um câncer de cólon e, depois, de bexiga. Chávez recebeu quimioterápicos errados e não se submeteu à radioterapia. Em quatro meses, apresentou um novo tumor, provavelmente resultado dos esteroides, que bloquearam a resposta natural à doença", explicou o médico.
A doença de Chávez estaria causando divisões no seio do governo. Segundo Ramón Medina, o vice-presidente, Elías Jaua, e o líder da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello, têm mantido reuniões noturnas em Caracas, nos últimos dias. "Há dois grandes grupos no governo: um deles é comandado pelo próprio Chávez, que deseja colocar no poder Adam Chávez, seu irmão e governador de Bariñas. Outro grupo é formado por Jaua e Cabello, que não estão de acordo com isso", revelou.