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Estado de Minas

Expropriação da YPF e comércio: Argentina desafia o mundo

Decisã foi duramente criticada por Espanha, União Europeia, FMI e pelos centros econômicos mundiais


postado em 18/04/2012 18:56

A presidente argentina, Cristina Kirchner, abriu várias frentes de conflito ao expropriar 51% de ações da espanhola Repsol na petroleira YPF, uma medida que, junto a travas comerciais, busca salvar seu modelo econômico apesar de duras críticas de todo o mundo.

Washington afirmou nesta quarta-feira que está "muito preoupado" com o projeto de lei de expropriação que afeta a Repsol.

Kirchner justificou a iniciativa por uma queda da produção de petróleo e o aumento das importações de hidrocarbonetos, que atingiram o dobro em 2011 em relação a 2010, o que o governo atribui à falta de investimentos da petroleira.

"A Argentina tem um problema de conduta em seu relacionamento com o restante do mundo que foi se agravando nos últimos anos", disse à AFP Emilio Cárdenas, embaixador argentino nas Nações Unidas nos anos 1990.

O ex-diplomata questionou o fato de um país que pertence ao G20 (países ricos e emergentes) aplicar medidas protecionistas "como o fechamento dos mercados de câmbio e a restrição máxima da circulação comercial".

O país sul-americano já tinha sido questionado por suas travas comerciais em uma apresentação na Organização Mundial do Comércio (OMC) por Estados Unidos, União Europeia e países asiáticos, como Japão, e latino-americanos, como México.

Cárdenas advertiu que "o episódio da YPF vai acelerar essas reações" e não descartou represálias.

"Não acredito que a Argentina vá ser expulsa do G20, mas acredito que pode ser suspensa", declarou.

Superávit comercial, um elemento-chave

Com as medidas protecionistas, o governo pretende manter o superávit comercial que é sua principal fonte de divisas, diante do fechamento dos mercados financeiros após o default de 2001.

O cientista político Edgardo Mocca afirmou à AFP que o tema na OMC "está relacionado a um certo grau de beligerância dos países mais desenvolvidos que se propõem a descarregar parte do peso da crise para o exterior", diante do que os países em desenvolvimento adotam "estratégias defensivas".

Vários países expressaram na OMC suas "preocupações contínuas e crescentes sobre a natureza e a aplicação de medidas restritivas para o comércio" na Argentina.

O comunicado foi assinado por Estados Unidos, União Europeia, Austrália, Israel, Japão, Coreia do Sul, Nova Zelândia, Noruega, Panamá, Suíça, Taiwan, Tailândia e Turquia.

Em meados de março, Peru, Chile, México e Colômbia também avaliavam demandar a Argentina na OMC. Seus parceiros no Mercosul, Brasil, Paraguai e Uruguai, se queixaram das medidas burocráticas de controle de importações adotadas por Buenos Aires.

No caso da YPF, a decisão "tem a ver com a estrutura produtiva do país", porque é necessário produzir mais energia para sustentar o vigoroso crescimento dos últimos anos e o "modelo kirchnerista", que se funda no "consumo (interno) massivo como motor da economia", os superávits comercial e fiscal e o desendividamento, explicou.

O governo argentino também dá fortes subsídios a setores da economia que favorecem o consumo, como transporte público e energia.

O presidente do México, Felipe Calderón, cujo país é acionista da Repsol, lamentou a decisão de Kirchner sobre YPF e disse que "o caminho correto para o mundo é abrir muito mais as economias".

O ex-ministro da Economia Roberto Lavagna (2002-2005) disse que "a Repsol não investiu o que devia e fez enormes distribuições de dividendos e isso deverá ser considerado no momento de fixar os valores da expropriação".

Mas sobre a eficária da decisão, Lavagna advertiu: "muitas vezes os argentinos festejam aquilo que depois se arrependem", como aconteceu, por exemplo, quando o Congresso aclamou plenamente a declaração de moratória da dívida em 2001.

A Argentina tem também litígios pendentes nos Estados Unidos, onde fundos de investimento entraram com processos judiciais em busca de cobrar as dívidas em moratória após o default de 2001. Vários credores privados não aderiram à troca proposta por Buenos Aires.

Frente de conflito com os britânicos

Outra frente de conflito aberta é com a Grã-Bretanha, país com o qual intensificou o enfrentamento verbal em meio ao 30º aniversário da guerra pelas Malvinas de 1982.

Nesse cenário, a ministra da Indústria, Débora Giorgi, propôs a presidentes de ao menos 20 empresas que importam bens e insumos da Grã-Bretanha que substituíssem essa origem por outros mercados.

O superávit comercial argentino caiu em 2011 para 10 bilhões de dólares, 11% menos que em 2010, segundo o Ministério da Economia.

E as importações de hidrocarbonetos estão no caminho de serem triplicadas este ano em relação a 2010, segundo o Instituto Argentino de Petróleo.

A Argentina adotou também restrições cambiais e enfrenta este ano vencimentos da dívida em mais de 6 bilhões de dólares em meio à escassez de divisas.


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