Não por acaso, ainda a caminho do aeroporto em que embarcou para Paris, Hollande teve seu primeiro ato semi-oficial: recebeu um telefonema para a chanceler (chefe de governo) alemã, Angela Merkel, que foi uma das primeiras governantes europeias a cumprimentar o presidente eleito e convidou-o para visitar Berlim assim que tomar posse, até o próximo dia 15. "A Alemanha está pronta a trabalhar com a França em um pacto pelo crescimento da Europa, o que passa por reformas estruturais", tinha dito pouco antes o ministro das Relações Exteriores, Guido Westerwelle. Também o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, a quem Sarkozy se referia como "meu chapa", felicitou o novo parceiro e convidou-o a encontrá-lo na Casa Branca.
Favorito destacado para vencer desde a campanha do primeiro turno, Hollande não fez segredo sobre a prioridade que dará ao tema e anunciou que levaria prontamente ao parceiro preferencial da França a proposta de uma revisão no tratado fiscal costurado por Merkel e Sarkozy para enfrentar a crise financeira na Zona do Euro. Tampouco a chanceler alemã fez mistério sobre sua resistência a remodelar o pacote de austeridade, imposto pela dupla a parceiros em dificuldades, como Grécia, Portugal, Espanha e Irlanda. O presidente francês, que teve na disputa o apoio explícito da colega, uniu-se ontem aos governantes de 11 países europeus apeados do governo desde que a crise se instalou no bloco.
"Neste 6 de maio, os franceses escolheram a mudança e me levaram à presidência da República, estou orgulhoso por ter sido capaz de devolver a eles a esperança", disse o vitorioso em seu reduto eleitoral. "Estamos prontos para agir e tomar decisões, a mudança acontecerá logo", completou, fiel ao lema da campanha, "a mudança é agora". O presidente eleito reafirmou o compromisso com uma cartilha de medidas de emergência para os primeiros 100 dias de mandato — começando por uma redução de 30% no salário do presidente e dos ministros. A receita inclui ainda um congelamento dos preços dos combustíveis por três meses e um reajuste de 25% no subsídio concedido às famílias por criança escolarizada.
Projetos Nas entrevistas que concedeu na reta final, quando as pesquisas indicavam uma tendência consistente para a sua vitória, Hollande deixou claro que os contornos definitivos de seu primeiro governo, em especial a escolha do primeiro-ministro, serão determinados pelas eleições legislativas de junho. "Vai depender do resultado e da necessidade de contar com o apoio do parlamento", antecipou. "Será alguém que conheça bem os deputados e também precisa ser alguém com quem eu tenha boas relações — é melhor assim." Entre os nomes cotados, o mais próximo desse perfil parece ser o atual líder do Partido Socialista na Assembleia Nacional, Jean-Marc Ayrault.
Definitivo
O presidente eleito da França, François Hollande, obteve 51,62% dos votos, e o presidente atual, Nicolas Sarkozy, 48,38%, na eleição presidencial de domingo, segundo um balanço final dos resultados anunciado nesta segunda-feira pelo ministério do Interior.
No segundo turno destas eleições, mais de 18 milhões de eleitores votaram pelo socialista Hollande e 16,9 milhões pelo presidente e candidato da direita, segundo os dados divulgados.
No total, mais de 46 milhões de franceses estavam convocados a votar e mais de 37 milhões participaram das eleições. A taxa de abstenção foi de 19,66%, ou seja, 9 milhões de pessoas. A proclamação oficial dos resultados será feita até quinta-feira.