Após a eleição do socialista François Hollande para presidente, as forças políticas francesas começavam a batalha das legislativas, nas quais o novo mandatário colocará à prova a sua capacidade de manobra e a ultradireita será vital.
O novo presidente precisará da maioria absoluta no Parlamento para levar adiante a sua política. Pelo contrário, um eventual primeiro-ministro de direita vai liderar o Executivo e reduzir em grande medida a iniciativa presidencial.
No domingo à noite, em um discurso diante de seus simpatizantes na Praça da Bastilha em Paris, Hollande deu o tom: "Há muito o que ser feito nos próximos meses, e para começar, dar a maioria ao presidente da República".
Em seu empenho, Hollande conta com a aliança da Frente de Esquerda, que inclui o Partido Comunista e apoiou a candidatura do ex-socialista Jean-Luc Melenchon, que pediu que seus eleitores votassem nele no segundo turno da eleição presidencial.
O secretário nacional do Partido Comunista, Pierre Laurent, foi claro no domingo, afirmando que seu "trabalho será prolongar esta vitória" de Hollande. "Deve suscitar uma mudança política real", destacou.
Hollande contará também com o apoio dos ecologistas, que fecharam um acordo em novembro com os socialistas na esperança de obter entre 18 e 24 deputados e nesta segunda-feira pediram que seus partidários não baixem a guarda.
A secretária nacional, Cécile Duflot, pediu "uma mobilização geral de todos para dar uma energia nova à mudança", advertindo para o "risco" de uma maioria da União por um Movimento Popular (UMP), partido conservador de Sarkozy majoritário na Assembleia Nacional desde 2007.
Nas legislativas anteriores, em 2002 e em 2007, a vitória da direita na eleição presidencial se traduziu em uma maioria absoluta na Assembleia Nacional para o partido do novo chefe de Estado.
Após o êxito da esquerda nas últimas eleições municipais e regionais, a direita contra-atacou advertindo para uma concentração excessiva de poder nas mãos dos socialistas.
A porta-voz de campanha de Sarkozy, Nathalie Kosciusko-Morizet, fez as seguintes afirmações à rádio Europe 1: "Agora temos o novo presidente da República, o Senado, a maioria das regiões, um enorme número de departamentos, muitas grandes cidades, que são de esquerda".
"Sonho com um reequilíbrio para as legislativas. Será inédito na França se todos os poderes estiverem nas mãos de apenas um partido, neste caso os socialistas", disse.
Segundo as pesquisas divulgadas no domingo, os dois partidos, o Socialista e a UMP, estão empatados, com 31% das intenções de voto para os primeiros e 30% para os conservadores.
Neste jogo político será decisivo o papel da ultradireitista Frente Nacional, cuja candidata Marine Le Pen foi a terceira mais votada no primeiro turno da presidencial.
Antes da derrota de Sarkozy no segundo turno, Marine Le Pen anunciou que quer fazer de seu partido "a única e verdadeira oposição à esquerda ultraliberal, laxista e libertária".
Até agora, o sistema das legislativas, no qual somente o candidato mais votado no segundo turno leva o assento, tem sido muito desfavorável para a ultradireita, que não tem deputados na Assembleia Nacional.
Mas a Frente Nacional agora alimenta esperanças, já que no primeiro turno da presidencial Marine Le Pen ficou em primeiro ou segundo lugar em 116 das 577 circunscrições.
Além disso, a tensão em uma UMP marcada pela derrota de seu líder e na qual existe uma divisão perceptível as ideias da Frente Nacional podem jogar a favor da extrema-direita, que espera atrair parte do partido de Sarkozy.
Os líderes da UMP se reuniram nesta segunda-feira com o atual presidente, que pediu que mantenham a unidade às vésperas das legislativas.
Mas ilustrando a discórdia que sacode o partido, um de seus deputados, Jean-Paul Garraud, mencionou nesta segunda-feira abertamente a questão da "aproximação" com o FN, perguntando-se se não seria preferível ser "pragmáticos".
Por fim, resta a incógnita de para onde irão os eleitores do centro. A questão se complicou com a decisão de seu líder François Bayrou, procedente da centro-direita, de votar em Hollande no segundo turno da presidencial.