"O que vi é inimaginável. Foi uma matança horrível (...) as pessoas foram executadas e (seus corpos), queimados. Os corpos dos homens jovens foram levados", indicou Laith com a voz trêmula. Ele prefere omitir seu sobrenome, por medo de represálias das forças do governo. Seu relato não pode ser confirmado devido às restrições impostas aos jornalistas na Síria.
Pelo menos 55 pessoas foram assassinadas, das quais 49 em Al-Koubeir e seis no povoado vizinho, indicou nesta quinta-feira à AFP o diretor do Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), Rami Abdel Rahman, acrescentando que "entre as vítimas estão 18 mulheres e crianças".
Segundo Laith, "não havia manifestações" contra o regime naquele local desde que teve início o levante na Síria, em meados de março de 2011.
Os "shabiha", milícias do governo que chegaram de regiões alauítas próximas, entraram depois em Al-Koubeir, prosseguiu. "Tinham armas de fogo e facas. Chegaram de povoados próximos, como Asileh, que é alauíta", explicou.
Desde 1970, os alauítas ocupam cargos importantes na Síria. O próprio presidente, Bashar al-Assad, pertence aos alauítas, uma corrente minoritária do islã xiita. "Pessoas desse povoado que eu conheço me disseram que durante a noite, os milicianos shabiha beberam e dançaram em volta dos corpos, cantando em homenagem a Bashar al-Assad", acrescentou Laith. "Os observadores foram chamados pelo menos trinta vezes", denunciou. "Mas não vieram (...) Simplesmente não podemos aceitar mais isto (...) Se pessoas são mortas, tudo é uma montagem, uma mentira", denunciou.
Nesta quinta-feira, os observadores da ONU mobilizados na Síria não conseguiram chegar a Al-Koubeir, principalmente, por terem sido impedidos por "barreiras do Exército", anunciou o chefe da missão, general Robert Mood.
Militantes de Hama também acusaram os shabiha de serem os responsáveis pelo massacre nesta aldeia. "Acho que pediram a criminosos que transmitissem uma mensagem ao povo sírio dizendo 'ou estão conosco ou estão contra nós'", considerou Abu Ghazi al-Hamwi, um militante, que apresentou um nome falso temendo represálias. "A violência é pior em áreas onde vivem sunitas e alauítas. O governo tenta dividir a sociedade", acrescentou, indicando que havia conversado com um sobrevivente da matança que escapou fingindo-se de morto e que tinha perdido "35 membros de sua família".
Ele também se queixou dos observadores da ONU. "Quando o Exército se mobilizou e começou a bombardear 20 ou 25 casas, houve militantes que ligaram para os observadores da ONU, que responderam que não podiam ir porque era tarde", acrescentou.
Para Musab al-Hamadi, outro militante de Hama, "o governo quer provocar confrontos sectários no país". "Aqui todos dependem do Exército Sírio Livre (ESL, composto por desertores do Exército). A comunidade internacional nos abandonou", concluiu.