Kofi Annan "está particularmente preocupado com os recentes bombardeios a Homs (centro), além das informações indicando o uso de morteiros, de tanques e de helicópteros na cidade de Haffé, na província de Latakia (noroeste)", ressaltou seu porta-voz Ahmad Fawzi em um comunicado. "Há indicadores de que um grande número de civis estão encurralados nessas cidades".
Pouco depois, a porta-voz do Departamento de Estado, Victoria Nuland, afirmou que "os Estados Unidos se juntam a Kofi Annan para manifestar sua preocupação relacionada às informações provenientes da Síria, indicando a preparação de um novo massacre por parte do regime" em Haffé.
"Temos que lembrar às lideranças militares sírias uma das lições aprendidas na Bósnia: a comunidade internacional pode descobrir quais unidades são responsáveis por crimes contra a Humanidade e vocês serão considerados responsáveis por suas ações", acrescentou.
Segundo militantes, Haffé, para onde Annan pede acesso aos observadores da ONU, é bombardeada há seis dias pelas forças do governo. A situação na região é "terrível e os tanques do Exército estão na entrada da cidade", declarou Sima Nassar, uma militante contatada pela AFP via Skype.
"Não há um só médico que cuide dos feridos na cidade" abandonada, segundo ela, pela maioria de seus 30.000 habitantes. "Há rebeldes e alguns civis armados que os ajudam a defender a cidade".
Atentado contra um gasoduto
A missão de observadores da ONU também expressou a sua inquietação com a escalada de violência na cidade de Homs, ressaltando que ela está negociando a retirada dos civis.
O Exército bombardeou com artilharia pesada a localidade de Rastan, na província de Homs, setores da província de Idleb (noroeste) e a cidade de Al-Achara, na província de Deir Ezzor (leste), defendida fortemente pelos rebeldes e da qual as forças de ordem tentam retomar o controle, indicou o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
Combates violentos também ocorreram nessas províncias entre soldados e insurgentes, que efetuaram diversos ataques a bomba, indicou a ONG.
Segundo o OSDH, no momento em que a revolta entra nesta semana em seu 16º mês, a repressão e os confrontos custaram a vida de 87 pessoas nesta segunda-feira.
Segundo a agência oficial Sana, que acusou "um pequeno grupo terrorista armado", um atentado causou estragos em um gasoduto no leste do país, provocando o vazamento de 400.000 m3 de gás.
Mais de 14.100 pessoas morreram desde o início da revolta desencadeada no dia 15 de março de 2011 por manifestações pacíficas, mas que se militarizaram frente à repressão, segundo o OSDH.
Nuland novamente descartou nesta segunda-feira uma intervenção militar americana. "Nossa preocupação é que envolver forças estrangeiras neste conflito (...) pode transformá-lo em uma guerra por procuração", declarou.
Neste contexto, o chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, vai na quarta-feira ao Irã, principal aliado de Damasco na região, que foi acusado fornecer armas e especialistas para ajudar na repressão efetuada pelas forças de Assad.
Projeto de resolução
A Rússia propôs a realização de uma conferência internacional para tentar salvar o plano Annan, incluindo o Irã, mas os ocidentais rejeitaram.
Em Paris, o Ministério das Relações Exteriores indicou que a França manterá "nesta semana novos contatos com a Rússia" sobre esta conferência.
A França deve receber em 6 de julho uma nova reunião do Grupo dos Amigos do Povo Sírio, que não inclui o Irã e do qual Rússia e China nunca participaram.
Enquanto isso, Washington, Paris e Londres preparam um projeto de resolução no Conselho de Segurança incluindo uma ameaça de sanções.
Entretanto, esta resolução corre o risco de ser bloqueada, como no passado por Pequim e Moscou. Os Estados Unidos e a União Europeia já impõem sanções unilaterais a Damasco.
O novo chefe do Conselho Nacional Sírio (CNS), principal grupo da oposição, Abdel Basset Sayda, pediu nesta segunda-feira que o presidente Assad ceda o lugar ao vice-presidente Farouk al-Chareh, segundo a agência de notícias turca Anatolia.