A incerteza em torno da saúde do presidente venezuelano, Hugo Chávez, é a principal causa do elevado número de indecisos apontados pelas pesquisas quatro meses antes das eleições presidenciais, afirmam analistas consultados pela AFP.
"É um percentual muito alto", disse à AFP Luis Vicente León, presidente da respeitada empresa de pesquisas Datanalisis, que estima em 32% o número de indecisos, muito acima dos 20% registrados quatro meses antes das eleições presidenciais anteriores, em 2006.
"É normal. Há muitos eleitores que nem sequer sabem se Chávez vai estar nas eleições. Em 2006, nesta mesma época a campanha já estava totalmente em andamento. Hoje temos a campanha casa a casa de Capriles, a doença de Chávez e seus anúncios de ajudas sociais, mas Chávez não está plenamente na campanha", explicou.
Chávez, de 57 anos, que se recupera de uma radioterapia contra a recorrência de um câncer detectado há um ano, apresentou oficialmente na segunda-feira sua candidatura no Conselho Nacional Eleitoral (CNE), e seu enérgico discurso de cerca de três horas foi acompanhado por dezenas de milhares de seguidores.
No sábado, anunciou que nos exames que fez antes do previsto - para ter assim os resultados antes que terminasse o prazo de inscrição - "tudo saiu absolutamente bem".
"Ainda há muitas questões: se Chávez estará ou não, se chegará até o final", completou León.
A presidente da consultoria DataStrategia, Carmen Beatriz Fernández, tem opinião semelhante para explicar a "porcentagem de indecisos anormalmente grande" em comparação com "processos eleitorais anteriores".
"Há muitos chavistas que são chavistas apenas por Chávez e que estão à espera da doença do líder", disse à AFP.
Um argumento "distorcido"
No entanto, o analista político e professor da Universidade Central da Venezuela, Nicmer Evans, não considera elevado o número de indecisos, e critica "as empresas de pesquisa que assessoram" o candidato opositor, Henrique Capriles Radonski, de vincular os indecisos "ao fato de Chávez estar doente".
"Me parece distorcido pensar que os eleitores de Chávez" estiveram esperando sua inscrição "no Conselho Nacional Eleitoral para decidir se votarão nele", opina.
Desde que há quase um ano anunciou ao mundo que padecia de um câncer, Chávez se viu obrigado a se afastar de sua habitual onipresença na vida pública, e passou a se comunicar com o povo venezuelano através da rede social Twitter e de discursos por telefone na emissora oficial, o que levantou dúvidas sobre se estará ou não em forma para buscar um terceiro mandato.
Mas nas últimas semanas, o presidente, que não deixou entrever a possibilidade de designar um substituto, foi reativando pouco a pouco suas aparições em atos oficiais e prometeu integrar-se plenamente à campanha.
Para Ángel Álvarez, doutor em Ciências Políticas e professor da Universidade Central da Venezuela, nos indecisos há "pró-chavistas incondicionais de Hugo Chávez que não votariam em qualquer outro candidato".
"E há outros eleitores que poderão estar inclinados a votar pela oposição, mas não aceitam a candidatura de Capriles, porque não veem nele uma opção convincente", afirmou.
Outro fator que soma indecisos é, segundo a presidente do DataStrategia, o chamado "voto oculto" daqueles eleitores que nas pesquisas não manifestam sua preferência porque "estão se beneficiando" das missões sociais com as quais o governo ajuda os setores mais pobres do país.