Os egípcios estão convocados para comparecer às urnas no sábado e no domingo para eleger seu futuro presidente, em um segundo turno que terá a disputa entre Mohamed Mursi, da Irmandade Muçulmana, e Ahmed Shafiq, o último primeiro-ministro de Hosni Mubarak, o ditador derrubado na Primavera Árabe.
Mursi, que obteve 24,7% dos votos no primeiro turno, tem o sólido apoio da rede da Irmandade Muçulmana, a confraria islamita que já domina o Parlamento e que alguns temem que também chegue agora à Presidência.
Esse engenheiro de 60 anos, graduado em uma universidade dos Estados Unidos, tenta seduzir para além do eleitorado islamita e assegura que manterá as liberdades adquiridas após a revolução, que não obrigará as mulheres a utilizar o véu ou que vai garantir os direitos da minoria cristã.
Mas seu rival, Ahmed Shafiq, o último chefe de governo de Hosni Mubarak, não tem medo de atacar e denuncia o que considera o "perigo islamita".
A vitória de um islamita nas eleições presidenciais colocará "a nação em perigo", afirmou Shafiq após o anúncio dos resultados do primeiro turno, no qual obteve 23,6% dos votos.
Em uma entrevista recente à AFP, Shafiq afirmou que os eleitores "cometeram um erro" nas eleições ao tornarem a Irmandade Muçulmana a primeira força do Parlamento.
Para ter certeza de que poderá chegar à presidência, este ex-primeiro-ministro de Mubarak, de 70 anos, terá que esperar a decisão na quinta-feira do alto tribunal constitucional sobre uma lei que proíbe que os funcionários de alto escalão do antigo regime se apresentem às eleições.
A sombra de Mubarak
O duelo Mursi-Shafiq "é a pior das situações possíveis. Se Shafiq vencer, significará que a revolução foi abortada. Se Mursi ganhar, significará que o país será governado pelo programa da Irmandade, rejeitado pela maioria dos egípcios", assegura à AFP Hassan Nafaa, um analista político.
"Não se pode esquecer que no primeiro turno a maioria do país não votou nem por Mursi, nem por Shafiq", acrescentou.
Diante deste dilema, os militantes pró-democráticos começaram a mobilizar e convocaram os 50 milhões de eleitores a se abster ou a votar em branco.
O Egito, país mais populoso do mundo árabe, com 82 milhões de habitantes, foi o segundo na região, depois da Tunísia, a ver seu presidente cair no ano passado pela pressão de uma revolta popular. Hosni Mubarak foi condenado no dia 2 de junho à prisão perpétua por sua responsabilidade na repressão da revolta.
O estado de saúde de Mubarak, de 84 anos, preso no Cairo desde sua condenação, pesa nas eleições presidenciais e no clima político geral do país. Várias fontes indicam que seu estado de saúde está piorando desde sua sentença.
Além do Parlamento e do Senado, os islamitas também dominam a comissão encarregada de elaborar uma nova Constituição, que na terça-feira elegeu seus membros, indicou a imprensa.
Na ausência de uma Constituição (a que estava em vigor sob a era Mubarak está suspensa), os poderes que o próximo presidente terá em seu mandato de quatro anos são ainda pouco claros.
O Exército egípcio, no poder desde a queda do regime e que prometeu cedê-lo ao presidente eleito antes do fim de junho, assegurou que será neutro e mobilizará 150 mil soldados para manter a segurança e evitar confrontos violentos durante a votação.