Desde 2008, o Produto Interno Bruto (PIB) da Grécia acumula queda de 14%. O desemprego chega a 22% da população economicamente ativa. A saída da zona do euro, no entanto, pode piorar a situação. Se os gregos voltarem a adotar o dracma como moeda, a inflação no país pode disparar. Além disso, uma eventual moratória na dívida pública grega intensificaria a desconfiança em relação a outros países do bloco econômico, principalmente a Espanha e a Itália, mas os reflexos seriam sentidos em todo o planeta.
“Nenhum economista pode prever se a saída da Grécia terá o mesmo efeito da quebra do Lehman Brothers , mas o mais provável é que a expulsão do país da zona do euro provoque corridas bancárias em outros países e contamine o ambiente global”, diz o professor André Nassif, especialista em economia internacional da Fundação Getulio Vargas (FGV).
O professor ressalta que o Brasil não está imune a um eventual calote grego, com depreciação cambial e congelamento do crédito, interno e externo. “Todos os países emergentes estão sujeitos à fuga de capitais, com imediato reflexo sobre o câmbio”, avalia Nassif. Segundo ele, apesar da disparada do dólar nos últimos meses, a moeda norte-americana subiria ainda mais com a deterioração do cenário externo.
De acordo com o professor, a dependência do Brasil em relação aos capitais financeiros internacionais, expressa no déficit nas contas externas do país, atualmente em torno de 2% do PIB, torna o país mais vulnerável a turbulências externas. “O dólar poderia subir para até R$ 2,30 ou R$ 2,40 porque há espaço para isso.”
Apesar da crise, o professor diz que a alta do câmbio traz oportunidades para o Brasil reverter desequilíbrios na economia, beneficiando a indústria nacional e melhorando a competitividade dos produtos brasileiros no exterior. “A taxa de câmbio de equilíbrio, que é neutra para exportadores, importadores e produtores nacionais, está entre R$ 2,30 e R$ 2,90, dependendo da estimativa. A depreciação do real faria a moeda se aproximar desses níveis”, observa.
Para Nassif, o governo brasileiro deveria aproveitar a disparada do dólar para introduzir medidas de controle de capital que impedissem a queda da cotação da moeda norte-americana para abaixo de R$ 2, caso a situação econômica externa volte a melhorar. “Os países asiáticos fizeram isso e impediram a sobrevalorização das moedas”, explica.
Uma disparada do câmbio terá impacto sobre a inflação. O professor, no entanto, ressalta que o repasse do dólar mais alto para os preços não será tão imediato por causa da desaceleração da economia brasileira. Segundo ele, a demanda mais baixa desincentiva as empresas a aumentarem preços na mesma proporção que o câmbio se deprecia.