O presidente paraguaio Fernando Lugo apresentará uma ação de inconstitucionalidade à Suprema Corte de Justiça contra o julgamento político iniciado pelo Congresso para sua destituição, anunciou o secretário-geral da presidência, Miguel López.
"O presidente reclama mais tempo para defesa", afirmou o porta-voz à imprensa, poucas horas antes do início do julgamento. Em poucas horas, o senado decidirá se Lugo realmente terá que deixar o cargo.
Os parlamentares paraguaios defenderam o impeachment do presidente Fernando Lugo a partir de cinco acusações formais. Elas devem ser analisadas hoje (22) no Senado, que votará o assunto. Lugo é acusado de vínculos com movimentos sociais do país e de falta de ação, por exemplo, contra a invasão de terras.
O deputado José López Chávez, do partido de oposição Unace, criticou uma manifestação de jovens de esquerda no Comando de Engenharia das Forças Armadas, em 2009. Afirmou que o ato político teve apoio de Lugo e foi financiado com recursos da hidrelétrica de Yaciretá.
Já o parlamentar Jorge Ávalos, do PLRA (Partido Liberal Radical Autentico), disse que na gestão de Lugo militares foram "submetidos às ordens" dos sem-terra %u2013 conhecidos como carperos %u2013 na localidade de Ñacunday, no início deste ano.
Segundo ele, militares teriam sido obrigados a receber ordens dos carperos e levado insegurança aos fazendeiros. "Foi indignante ver como oficiais vestindo o glorioso uniforme das Forças Armadas recebiam ordens de carperos como se fossem soldados rasos", disse o legislador.
A terceira acusação foi feita pelo deputado Carlos Lisera, do Partido Colorado. Ele responsabilizou o presidente pelo aumento da "onda de violência" no país. "Lugo não teve a inteligência e a capacidade para enfrentar a delinquência no país", afirmou. Ele disse ainda que Lugo não teve vontade política para combater os guerrilheiros do EPP (Exército do Povo Paraguaio).
Lisera também responsabilizou o presidente pelas mortes registradas há uma semana em uma reintegração de posse uma fazenda no interior do país %u2013 fato que desencadeou o pedido de impeachment.
Contudo, fontes do governo afirmaram que projetos de Lugo, incluindo os de combate à insegurança pública, não teriam tido apoio no Congresso Nacional, onde a maioria é amplamente opositora.
Uma questão de política internacional também faz parte da lista de cinco acusações dos parlamentares da oposição contra Lugo. Eles criticaram a decisão do presidente de ratificar o chamado Protocolo de Ushuaia 2, de dezembro de 2011, que prevê intervenção externa caso uma democracia esteja em perigo.
Para o deputado Clemente Barrios, o texto "viola abertamente a Constituição" paraguaia e substitui o documento chamado Ushuaia 1, que é o protocolo do Mercosul de defesa da democracia regional.
Assim, o desembarque de uma missão da Unasul, na noite desta quinta-feira em Assunção, não foi bem vista por setores da oposição que interpretaram que a destituição de Lugo é uma "questão interna".
Ainda em relação à questão da violência por questões de terra no país, o deputado Oscar Tuma , do Partido Colorado, responsabilizou Lugo pelas mortes em Curuguaty, na semana passada, dizendo que o presidente foi "nefasto" para o país. E justificou "negligência" do presidente no caso. Segundo ele, os manifestantes que ocupavam a fazenda preparam uma %u201Cemboscada%u201C para os policiais. "O incidente foi premeditado e ocorreu graças à cumplicidade e falta de ação de Lugo", afirmou.
Na noite de ontem (21), um grupo de bispos católicos esteve com o presidente na residência presidencial. Após o encontro, o grupo divulgou comunicado defendendo a renúncia de Lugo para evitar violência no país.