O ex-presidente do Paraguai, Fernando Lugo, afirmou na noite desta sexta-feira que acatará a destituição sofrida um pouco mais cedo no Senado e que enfrentará na Justiça as investigações relativas ao impeachment. O mandato de Lugo foi cassado no Senado por 39 votos a favor, quatro contra e duas abstenções.
Tranquilo e aparentando serenidade, Lugo rechaçou o julgamento rápido feito pelo Senado e disse que a democracia paraguaia ficou "ferida" porque seus princípios fundamentais foram "transgredidos".
"Espero que os senadores estejam cientes da gravidade de seus feitos", disse ao se referir a decisão do Senado. Fernando Lugo foi incisivo ao falar sobre as mobilizações de apoio a ele, "peço que as manifestações sejam pacificas, que o sangue dos justos não se derrame por interesses mesquinhos".
"Nesta noite, eu saio pela porta maior da Pátria", afirmou. "Esta é a porta do coração dos meus compatriotas", afirmou Lugo. Em tempo recorde e com maioria esmagadora, o Senado destituiu Lugo em meio a protestos de partidários e simpatizantes do mandatário e críticas da comunidade internacional sobre irregularidades no procedimento.
O vice-presidente Federico Franco, do Partido Liberal, assumiu a presidência em uma cerimônia realizada pouco depois do discurso de lugo. Federico foi eleito em uma chapa de coalizão como o partido do presidente deposto, mas rompeu politicamente com Lugo ainda no primeiro ano de mandato.
Lugo ficou quase quatro anos no poder, apesar das críticas frequentes do seus detratores e de sofrer um câncer linfático, do qual se tratou em São Paulo, no Brasil. A sessão que destituiu Lugo durou mais de cinco horas no Congresso do Paraguai e ocorreu menos de um dia após a Câmara dos Deputados pedir a abertura do julgamento político do mandatário por incompetência no desempenho das funções presidenciais. A acusação contra Lugo teve cinco pontos e pelo menos dois deles se referiam diretamente à questão dos sem-terra no Paraguai, que se arrasta há vários anos. Um desse pontos foi a morte de 17 pessoas (11 camponeses e seis policiais), durante o cumprimento de uma ordem judicial de retirada dos sem-terra de uma propriedade invadida no dia 15 de junho, em Curuguaty, localidade 400 quilômetros ao nordeste de Assunção.