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Estado de Minas

Crise no campo do Paraguai deve prosseguir mesmo com troca na presidência


postado em 24/06/2012 07:59

O conflito no campo e a profunda desigualdade econômica são o principal problema social do Paraguai e estão no centro das disputas que ruíram o apoio do presidente deposto Fernando Lugo. Eleito com apoio de camponeses, Lugo prometeu realizar uma reforma agrária e assentar milhares de sem-terra em propriedades rurais em sistemas de cooperativas. A promessa não foi cumprida, em boa medida por causa da ferrenha oposição que Lugo enfrentava no Congresso. O ex-presidente também enfrentava dificuldade em negociar com os produtores rurais, responsáveis por boa parte da expansão econômica do país nos últimos anos. Esse conflito de interesses mostrou-se o maior obstáculo político para Lugo e corre o risco de se agravar com o novo presidente Federico Franco.

Diante dos ínfimos avanços na esperada reforma agrária, os sem-terra passaram a promover invasões em várias regiões do país, sobretudo em terras cuja titularidade é questionada pela Justiça. Eles reivindicam 167 mil hectares de terras na região do Alto Paraná, faixa de fronteira com o Brasil. Dizem que se trata de apenas uma parte dos quase 300 mil hectares de propriedades cuja titularidade nunca saiu das mãos do Estado. Para os sem-terra, trata-se de terras públicas que teriam sido usurpadas por "grileiros de terras brasileiros".

Na tentativa de acalmar os setores rurais, principalmente os grandes produtores, que incluem cerca de 400 mil “brasiguaios”, o novo presidente prometeu garantir os direitos de propriedade dos "brasiguaios". "Esses brasileiros que são cidadãos paraguaios terão um tratamento preferencial. Certamente, esse governo (do ex-presidente Fernando Lugo) foi o que mais nacionalizou cidadãos brasileiros radicados no Paraguai. Eles (os brasiguaios) podem ficar seguros sobre a preservação de seus direitos", disse ele em entrevista coletiva ontem.

A União de Grêmios de Produção (UGP), que representa os interesses dos grandes produtores, foi favorável ao impeachment de Lugo e se diz esperançoso com o novo mandatário. "Temos que dar uma oportunidade ao novo governo", disse Héctor Cristaldo, presidente da UGP. O grêmio reúne, entre outros, os poderosos produtores e exportadores de cereais e oleaginosas. "Esperamos conseguir com Franco o que não pudemos com Lugo", disse Cristaldo, referindo-se à sua reclamação de que sejam interrompidas as invasões de estabelecimentos rurais por sem-terra, registradas no governo do presidente deposto. A UGP decidiu cancelar um “tratoraço”, forma de protesto dos fazendeiros em que eles bloqueiam estradas com suas máquinas, gerando quilômetros de congestionamentos.

OPOSIÇÃO

Movimentos sociais e políticos contrários ao impeachment de Lugo se reuniram na sede da Central Nacional dos Trabalhadores, no Centro de Assunção, para definir metas para a oposição ao novo governo. Sob a liderança da Frente Guasú, que concentra cerca de 20 partidos de esquerda e centro-esquerda, a discussão principal era como garantir uma "mobilização pacífica ativa" contra o governo de Franco. Os grupos, que reuniam forças jovens, camponeses e movimentos de esquerda paraguaios, preparavam um documento no qual instituem que Lugo "continua sendo o presidente legítimo" e que não aceitarão nenhuma negociação com a participação de Franco.

Para o membro do Parlamento do Mercosul Ricardo Canese, a resistência ao novo governo deve ser feita pacificamente. "O povo tem todo o direito de se manifestar contra esse golpe de Estado parlamentar e à instalação de uma ditadura de extrema-direita. Mas vamos fazer isso de uma forma pacífica", disse. Canese, contudo, diz que o movimento apoiará a ocupação de terras por campesinos, origem dos principais conflitos recentes no país ."Há oito milhões de hectares de terras públicas ocupadas por invasores. E o movimento campesino deve lutar por elas."


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