Israel expressou nesta segunda-feira preocupação com a eleição do islamita Mohamed Mursi à presidência do Egito, mas continua apostando pela manutenção do tratado de paz com o país mais povoado do mundo árabe. "Israel espera prosseguir sua cooperação com o governo egípcio com base no tratado de paz, que responde aos interesses mútuos dos dois povos e contribui para a estabilidade regional", afirma o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu em um comunicado. Mursi, proclamado presidente no domingo, prometeu respeitar os tratados internacionais, mas sem apresentar detalhes. Horas antes, declarou à agência iraniana Fars que o Egito iria "revisar os acordos de Camp David" que estabeleceram a paz do Egito com Israel. Questionada pela AFP, uma fonte do governo israelense, que pediu anonimato, destacou que a "vitória dos islamitas não tranquiliza Israel", mas disse esperar uma "atitude pragmática". "Israel e Egito estão submetidos aos mesmos imperativos: a segurança ao longo da fronteira de 240 km, a solução negociada ao conflito israelense-palestino e os interesses econômicos", completou. "Agora há um homem que dirige o Egito que nunca escondeu sua hostilidade ante Israel", declarou à rádio pública o deputado trabalhista Binyamin Ben Eliezer, ex-ministro da Defesa e próximo do presidente egípcio destituído Hosni Mubarak. "Devemos buscar o diálogo com os islamitas e, ao mesmo tempo, estar preparados para a guerra", disse. "Israel deve esperar problemas ao longo da fronteira com o Sinai (egípcio), que se transformou em santuário para os grupos terroristas, incluindo a Al-Qaeda", completou. O comandante do Estado-Maior israelense, general Benny Gantz, pediu recentemente ao Egito que "assuma sua soberania sobre o Sinai". Em 18 de junho, elementos procedentes do Sinai - um egípcio e um saudita que alegavam integrar a Al-Qaeda - entraram em Israel e foram mortos depois que assassinaram um operário da construção civil. O jornal Haaretz cita uma fonte oficial segundo a qual o governo de Netanyahu espera que Mursi considere que é mais importante para o Egito recuperar sua economia vacilante, ao invés de questionar os vínculos bilaterais. A fonte citou a ajuda anual de 1,5 bilhão de dólares concedida pelos Estados Unidos ao Egito. Washington atua como avalista do tratado de paz. No entanto, políticos e a imprensa consideram que a "paz fria" com o Egito entra em uma zona de turbulências com a vitória do candidato da Irmandade Muçulmana, que pertencem a um movimento ligado ao Hamas palestino. "Trevas no Egito", afirma o Yediot Aharonot, principal jornal de Israel. Israel já havia antecipado a vitória da Irmandade Muçulmana, afirma em um artigo Dov Weissglas, ex-conselheiro do ex-premier Ariel Sharon. Ele destaca neste sentido a "frágil resposta do Exército israelense" aos disparos de foguetes do Hamas, na semana passada, "para evitar protestos nas ruas egípcias", o que levaria o "governo do Egito a reagir contra nós". "Este é o preço que Israel começa a pagar por seu temor de um Egito diferente", completa, antes de incentivar a retomada de "negociações de paz sérias" com os palestinos.