Na Praça de Armas, sede dos poderes Executivo e Legislativo, geralmente proibida aos manifestantes, reuniram-se grupos de professores da educação pública para se solidarizar com os oficiais que, paradoxalmente, participam da repressão a protestos.
"Damos a cara valentemente para nos solidarizarmos com as exigências por melhores salários para a tropa policial e dizer ao governo que não somos golpistas", disse a professora Vilma Plata, uma antiga líder sindical e do Partido Operário Revolucionário (POR).
Em meio a este clima de tensão, uma delegação policial retomou nesta terça-feira as negociações com três ministros de Estado sobre as condições para acabar com o motim de policiais de baixa patente que em seis dias se estendeu aos nove departamentos da Bolívia.
A base do diálogo gira em torno do pedido de um salário básico de 2.000 bolivianos (cerca de 287 dólares), da revogação de um regime disciplinar da polícia, da aposentadoria com 100% do último salário, da criação de uma defensoria policial e de garantias de que os policiais amotinados não sofrerão represálias.
Apesar das negociações em curso, os policiais amotinados seguiam em poder de 25 a 30 quartéis e delegacias regionais na Bolívia.
Firme em sua tese de que estão tentando promover um golpe de Estado, a ministra de Comunicação, Amanda Dávila, declarou à rádio estatal Patria Nueva que "este não é um movimento qualquer: tem o poder das armas, dos gases lacrimogêneos e todas as ferramentas" que agora se voltam "contra o Estado Plurinacional".
Na mesma direção, os governadores de oito departamentos do país, à exceção de Santa Cruz, rejeitaram nesta terça-feira, convocados pelo governo, as supostas tentativas de conspiração contra o presidente Morales.
"Repudiamos e condenamos as tentativas de grupos conspiradores que estão gerando atos de violência e cujos atos estão orientados para desestabilizar o processo democrático promovendo um golpe de Estado", disse o governador de La Paz, César Cocarico.
Dávila citou como evidência do plano de conspiração um atentado com dinamite que interrompeu nesta madrugada as transmissões de uma rádio do sindicato camponês de Oruro, favorável ao governo.
Com o objetivo de evitar acusações de conspiração contra Morales, a marcha de indígenas da Amazônia, que rejeita a construção de uma estrada em seu território, considerado área protegida, adiou sua entrada em La Paz, depois de caminhar por mais de dois meses das terras baixas até a sede de governo (um trajeto de 600 km).
Cerca de mil indígenas amazônicos levantaram um acampamento a 12 km de La Paz, na cidade de Urujara, em meio a um forte frio que afetou particularmente mulheres e crianças que acompanham a caminhada.
Morales disse no domingo que setores de oposição conspiram contra seu governo e buscam fazer com que as reclamações dos indígenas coincidam com o motim dos policiais.
O vice-presidente Álvaro García citou inclusive a existência de um suposto "Plano Tipnis" (Território Indígena e Parque Nacional Isiboro Sécure) que buscaria desestabilizar o governo.